Dia normal, absolutamente diferente de tudo o que eu experimentei na minha vida. De repente, as pessoas deram seus falsos sorrisos, e eu acreditei. Eu sentia falta dos sorrisos, mas eles voltaram, ainda que diferentes não deixaram de ser sorrisos. Dizem que é normal sorrir por educação. Pois esse dia foi normal, absolutamente normal. Todos disseram que estavam ótimos, sem problemas e felizes com seus sorrisos amarelos. Eu acreditei e me calei: somente porque eu não saberia dizer se eu também estava tão bem quanto eles.E por estar tão feliz quanto quem sorri desse jeito, eu descobri que por um dia, eu fui normal. Eu também estava ótimo, sem nenhum problema, muito feliz, e com um sorriso sincero disfarçado de amarelo. Era isso então: congelar uma aparência feliz em um corpo sem vida e fingir que você ganhou na mega sena. Eu não acordo de mal humor, e eu definitivamente não sou muito diferente de todo mundo, logo eu sou um grande e estúpido ser diferente, que é normal apenas por ser diferente.Se hoje for um dia normal, eu não sei mais se meu sorriso sincero vale a pena. Talvez seja por isso que eu sempre sorrio demais por tudo, no fundo eu me acho diferente por desejar infinitamente um bom dia pra que precisa ouvir isso. Mas acima de tudo, eu me sinto bem e desejar coisas boas para quem eu nunca mais vou ver, eu acho que realmente faza diferença.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Aquele tal de ursinho amarelo.
Hoje eu olhei pra uma parede amarela cheia de bolinhas. Tinha uma porta preta no meio e um relogio branco ao lado direito. A porta não trancava. Uma cadeira cheia de roupas amassadas funcionava como tranca, cadeado. Não que eu precisasse; ninguém, veja bem, ninguém, entra no meu quarto sem bater. Não é uma regra. É uma cuidado que os outros precisam ter comigo. Dae eu pisquei e a parede era azul clara desbotada. A porta quebrada era de outra cor, não havia relógio e o objeto que impediam os outros de entrar dentro de mim era um pesado movel de madeira cheio de lembranças do passado e baratas. E tudo voltou a ser... amarelo; com bolinhas. Virei minha cabeça pra esquerda e a luz da televisão me despertou do sonho. Tão lindo =) Só faltava a cortina pra cobrir lindamente a janela que, na parede branca, se manifestava sempre fechada. Mais ao lado, o computador, em sua mesa, com seus equipamentos e aquela luminária vermelha antiga. Olho para a direita e vejo a instante, cheia de livros. Cheia de dvds, de revistas, de cds, de apostilas e pelucias e caixas com mais caixas dentro. Dentro de uma delas há um pequeno bicho de pelucia enjaulado ferozmente; ainda assim, confio que ele sorri como antigamente um dia sorriu no calor do dia, no frio do vento da tarde nada casual que acontecia naquele quarto de paredes brancas. Haviam roupas intimas, listas, juras de amor, a Julieta e o Romeu. Havia fotos! Havia aquele pedaço de mim que outrora povoava as paredes brancas mas que hj permanecer em uma bela caixa de esfiha.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
O que sobra de mim agora:
Estou revelando um olhar intrigado, com muito pesar. Não tenho pretensões futuras de chegar a uma brilhante conclusão; apenas olho. Preciso calmamente apenas revelar que estou intrigado com algo que ainda não entendo – e não entendo isso. Em minha cabeça aparece um belo ritmo facilmente confundido com alegria nascida da mais profunda nostalgia. Eu preciso derramar dramaticamente as minhas magoas em frustrações em alguém e ainda não entendo como posso fazer isso se não há sequer alguém suficientemente forte na minha lista de contatos moveis que carrego no telefone celular para suportar o peso das minhas dores.
Como remédio, como solução, eu me prescrevo, rapidamente, boas doses de sorriso e uma boa musica agitada. Corro em direção aos meus CDs digitais, os quais invejo quem os escutam também. Preciso que a musica seja minha para que possa dizer honestamente que eu vi algo brilhando nela. Os sons leves, sensíveis, intensos e certeiros me afetam tão igualmente como os outros demais ouvintes. Preciso ser especial ao ponto de ser a pessoa destinada a receber tal canção – para então, poder ser capaz de hipotetizar a existência de um alguém tão bom quanto a canção que seja igualmente capaz de me afetar da mesma maneira
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Segunda-feira, 07:30.
Eu gosto de manter a meia luz como ela é; gosto de saber parcialmente o que está acontecendo e ainda ter espaço para negar o que é visto, por apenas achar que é um jogo confuso da minha cabeça. Gosto de me sentir triste pela manhã, logo epois de acordar e procrastinar na cama, me atrasando voluntariamente. Bebo meu café antes de tomar banho; gosto do sabor quente queimando a língua enquanto a brisa fria da manhã recém nascida queima minha cara me chamando de mentiroso, metido e cinico. Preciso, diariamente, ouvir algumas musicas para conseguir sobreviver às essas semi-verdades. Preciso me aconselhar a ser um pouco menos eu, então, alguém será um pouco mais capaz de me tolerar.
Hoje, eu acordei, precisando sentir muita raiva. Estou, inclusive, disposto a fingir que alguém fez realmente algo suficientemente forte para me magoar. Preciso que essa dor de “ofender-se” com algo governe minha manhã. Hei de inventar essa mentira simples, de ultima hora, despretensiosa e clichê; então, a contarei a alguns amigos e ouvirei seus conselhos pertinentes para testá-los mais uma vez. Estarei completamente sóbrio e verei até quando eles me resgatarão. Preciso chegar ao final da manhã sabendo que a grande mentira que havia contado, na verdade, era algo apenas que eu não conseguia admitir até ouvir da boca de alguém duas palavras de conforto. Preciso desse conforto que só posso exigir de alguém que me ama. Antes preciso ser amado - essa será, talvez, a grande mentira baseada em uma verdade que um dia ousaram me dizer. Essa, será também, a grande mentira que contarei hoje.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Um paragrafo e só
"Quando eu finalmente olhar em seus olhos, sentirei apenas raiva" - Disse eu, conversando na mesa de bar. De repente me tornei amargo ao repetir: é, quando ele aparecer, vou sentir muita raiva. Todos se entreolhavam simultaneamente na tentativa de entender o que tão bruscamente fora dito. Fui chamado de bêbado, de louco, de carente. Não conseguiria explicar com clareza, ainda que estivesse disposto a tal, pois, comos todos já perceberam mais cedo, já enrolava parcialmente alcoolizado a lingua nas palavras ou as palavras na lingua. Tudo isso porque o momento pelo qual me sujeitei a beber alcool havia chegado e eu finalmente conseguira dizer a sentença a tanto ensaiada. Sem conseguir concluir brilhantemente algo que deveria ter força, comecei a dizer que ele me havia deixado verazmente chateado e que eu não seria capaz de perdoa-lo pela sua longa ausência. Meu peito doído me persuadia a chorar as lagrimas que eram dele e somente dele - as minhas próprias lagrimas de saudade derramadas por alguém que jamais havia existido fora de mim. Pertubado, retornava ao pouco para a antiga musica brasileira tocada bravamente no violão do cantor. Esses sons, pouco a pouco, me traziam de volta; e eu bobo, já começava a sorrir, já começava a perdoa-lo e já voltava a conversar alegremente, olhando para o relógio, apreensivo, pensando se ainda é tarde.?
quarta-feira, 30 de maio de 2012
O brilho das estrelas mortas
O trabalho acumulado em cima da mesa o entrertia; era bem verdade que os prazos curtos, a vida passando rápido, em pequenos grandes ciclos de seis meses, a falta de férias e a saudade dos velhos tempos o incomodavam. A quarta-feira se encerraria em nove minutos; logo, então, seria outro dia, um dia a menos para traduzir o resumo do artigo que seria enviado em tantos dias. Daqui pra lá, um seminário teria sido apresentado, um fim de semana terá sido desperdiçado em frente ao computador e apenas uma dessas noites seria dedicada ao sono.
A janela estava aberta naquela ocasião especial: era noite escura, com poucas estrelas. O barulho dos carros alienígenas já não incomodava; muito pelo contrário: o fazia companhia. Tanto pelo doce devaneio de que outras pessoas viviam a vida que ele tanto se esforçava para ter, como pela imprevisibilidade do corte sonoro que uma buzina apressada manifestava. Esporadicamente, alguns gritos ou xingamentos inaudíveis penetravam o seu escritório; serviam de despertadores mentais cuja obrigação é trazê-lo de volta à sua realidade, que era simples: faltava algo que ele não queria em sua vida
A partir desse absurdo que é querer algo que não se quer, ele começou a analisar a situação: faltavam nove minutos para o fim da noite; aquela mesma noite como tantas outras, que seria destinada a escolha do léxico apropriado. Dizer o que deve ser dito com as palavras que são usadas para dizer o que se quer dizer é uma arte. Ele mesmo, ainda que não estivesse utilizando sua linguagem acadêmica, se utilizava dos microssegundos do prazo apertado estabelecido para a entrega da sua produção intelectual para se prevenir de mal entendidos: ora dizia que alguém não havia sido tão prestativa quanto esperava, ora dizia que fulana era uma imprestável e que jamais formariam dupla novamente – logo em seguida fazia uma piada sobre algo popular, sorria e caminhava rapidamente a outro refugio, deixando as pessoas com quem conversava falando sobre a sua postura.
Sentiu raiva, primeiro, quando olhou o relógio do computador no canto direito da tela acusar oito minutos para o fim do dia; constatou, sem perder tempo, que a noite definitivamente acabaria com ele antes que pudesse acabar com ela. Em revolta-muda escorregou a mão por todo o painel de botões do monitor, ainda sem entender muito bem aonde ele deveria apertar para que o monitor desligasse. Sempre que fazia isso refletia como a tecnologia havia mudado e como os botões eram desnecessários hoje em dia. Adorava apertar botão de todos os tipos – era apaixonado pelos botões que faziam borracha.
Era noite, ainda; faltavam sete minutos inteiros, completos e cheios de vida para serem vividos ou desperdiçados. Deitou sua cabeça sobre os braços ainda cobertos com a camisa social listrada. Sentiu o cheiro do final do dia misturado ao amaciante usado na lavagem daquela que já era uma de suas camisas favoritas. Sentiu a exaustão se esvair enquanto ele tirava os óculos e silenciosamente anunciava: desisto, já não consigo mais ser ninguém. Esfregava os olhos, tanto com as mãos quanto com as próprias pálpebras, despertando do estado de morte súbita que lhe abatia. Agora sim, podia pensar em alguém.
Mas quem?
Durante um minuto inteiro procurou o sentimento de amor tanto comentado pelos seus amigos. Na sua cabeça não havia registro de alguém com demasiada importância; haviam, no entanto, idéias, objetivos, pequenos sonhos de consumos e vários desafetos. Pensou em um garoto excepcional que não era determinado o suficiente para chegar ao ponto máximo de qualquer coisa. Ele dizia que o futuro era agora e então começava a viver o passado como se fosse presente. Incomodava-me pensar que alguém se vangloriasse por ter tamanha estupidez guardada em poucas palavras.
Alguém, em qualquer lugar, diria que já era meia noite. Isso é uma inverdade; os cinco minutos finais da noite talvez fossem a única oportunidade concreta de conseguir vislumbrar a magia face escura da noite. Levantou-se, desabotoando os primeiros botões da camisa com a mão esquerda. Encostou-se em um dos lados da janela e contemplou a noite fraca, sofrida e moribunda. As estrelas, ainda que cheias de vida, eram poucas e separadas. Aonde havia parado aquele garoto de dezesseis anos que contemplava as estrelas e escrevia poemas inedibriado pelo poder que elas exerciam sobre sua pele sensível? Entregou-se a tentação de chorar de saudade, ou de luto, ou apenas por admirar um momento simples.
Imediatamente, voltou ao computador. Ligou o monitor e rapidamente abriu o editor de textos. Sentira a necessidade urgente de eternizar aquele momento simples através da escrita da mesma poesia nostálgica que o fez chorar a pouco. Olhou atentamente para a branquidão que se refletia na sua face e durante um minuto procurou palavras que transmitissem a mensagem que nem mesmo ele estava certo de ter compreendido. Antes que pudesse escolher a primeira palavra que se encaixava, parou; não era ninguém – nem nunca seria. A Literatura, como um todo, não se enriqueceria com as suas contribuições. Os leitores, sobretudo, não se deleitariam com as coisas que ele tinha pra dizer, e ele, pobre ele, sequer seria capaz de acreditar que sairia algo.
Digeriu o sentimento amargo de incompetência silenciosamente; pouco a pouco voltava a sua dura realidade. Levantou-se novamente e caminhou até a geladeira, procurando água, suco, achocolatado, refrigerante, isotônico ou álcool. Nada encontrava – apenas luz. Luz, luz, luz, que há tanto tempo tem sido símbolo de tanta coisa sem graça, que há tanto tempo tem sido desejado em orações, que há tanto tempo tem iluminado de tantas maneiras tantas pessoas. A luz, que ele detestava nesse momento, ofuscava seus olhos, quase o cegando com tanta verdade.
Era noite.
Mas em um minuto seria um novo dia, um novo prazo, um novo cotidiano, uma nova luz, um novo julgamento sobre um novo trabalho, uma nova roupa com cheiro de amaciante. Tudo se renovaria, inclusive a noite, que ainda seria escura. Só não se renovariam as estrelas, que até então já podem estar inclusive mortas sem sequer saberem, lembrando eternamente que eu, morto, talvez também brilhe para uma outra estrela do outro lado do universo
sexta-feira, 16 de março de 2012
For what/who/where he stands for
Seus olhos alcançavam o pedaço abandonado de pizza em um copo sujo de coca cola em cima da mesa do computador. A barriga cheia olhava para aquilo e se arrependia. No começo da noite havia ligado para uma atendente burra pedindo uma pizza grande de um jeito; quando ela revelou o preço ele ainda se surpreendeu, não esperando ser tanto assim, e disse pra mandar do mesmo jeito. Quando a pizza chegou e ele abriu aquela caixa quente, constatou: pedido errado. Mesmo assim comeu, estava com fome. Agora olhava praqueles restos, pensando se realmente valera a pena. Lembrava-se de vários momentos do seu futuro desejado e de lugares que sempre quisera conhecer. Ele celebrava com seu curto salário uma promessa de que algo melhoraria. De verdade? Jamais saberia dizer, pois morreria naquela noite, sozinho, mentiroso e empanturrado.
Aparentemente, comera a pizza que era destinada ao marido de uma mulher traída: quinta feira a noite decidira chegar silenciosamente em seu apartamento, julgando-se sua dona, pronta para observar as luzes da hora do trânsito caótico abafados pela janela do seu apartamento no andar 23 enquanto ouvia uma música ambiente calma e fina, bebendo uma taça de champagne. O marido no quarto apenas ouvia um murmurinho enquanto sua mulher escutava gemidos e os procurava desconfiadamente. Era Gabrielly a empregada, que era safada mesmo.
Uma batida na Avenida atrasava um jovem estudante pobre e sem dinheiro para o seu encontro romântico. Ele havia conhecido alguém especial em uma pagina de relacionamentos online semana passada. Conversaram sobre vários tópicos interessantes; ambos tiveram oportunidades de confessar segredos selecionados por mensagens de texto. Decidiram se conhecer e levar tudo numa boa. Ela procurava se vingar do ex enquanto ele tentava mais uma vez o amor. Por uma semana foram felizes fingindo ser um casal que daria certo. Um mês depois, quando ela estava completamente apaixonada, ele olhou em seus olhos e disse que havia teclado com outra menina e que não era justo com ninguém continuar prolongando o fim.
Os amigos de faculdade a consolavam. Havia esse rapaz insuportável que sempre chegava um pouco mais cedo; o querido dos professores. Eu não o conhecia pessoalmente, mas já sabia bastante sobre ele: ele é irritavelmente aplicado e se dedica aos seus estudos. Às vezes, quando olho pra ele, sinto raiva e depois inveja. Em seguida penso que nunca serei assim, em partes porque não quero. Por isso, ela se sentia sinto burra e acomodada. No final descobriria que não estaria na faculdade certa, como antes, e trancaria o curso para poder trocar de área novamente.
Ele se sente que apenas se apaixonaria por uma pessoa que soubesse dados sobre as coisas para ele ou que por acaso cantasse suas musicas favoritas. Gostaria de conhecer um homem que o desafiasse intelectualmente, uma vez que todos sabem que ele é um gênio, Fazia questão de deixar isso claro: aplicava todo o dinheiro de sua bolsa de pesquisa em livros e cursos. Era até bonito, uma vez que o conhecesse fora da academia. Não encontraria tal pessoa; apenas outros mais bonitos em festinhas ou baladas. Seu coração seria quebrado ao meio definitivamente quando ele se apaixonasse por um rapaz extremamente lindo que estava viajando para Irlanda em Julho, no mês do seu aniversário.
Ele havia inventado uma desculpa idiota pra evitar uma tragédia. Na verdade, ele era professor de História de uma escola pública e estava cansado de relacionamentos. Dessa vez o rapaz havia perturbado tanto que ele precisou mentir descaradamente Sempre tivera uma paixão inesquecível pela Irlanda. Imaginava-se vivendo vários anos felizes naquele lugar frio, bebendo cerveja e se aquecendo perto de uma lareira. Era uma vida feliz que sonhava ter.. Iria para a Irlanda, claro, mas não agora. Na verdade, passaria a sexta feira em seu apartamento pedira uma pizza, falaria com uma atendente burra e morreria, ainda sem saber se as suas promessas de algo melhor seriam cumpridas ou não.
Aparentemente, comera a pizza que era destinada ao marido de uma mulher traída: quinta feira a noite decidira chegar silenciosamente em seu apartamento, julgando-se sua dona, pronta para observar as luzes da hora do trânsito caótico abafados pela janela do seu apartamento no andar 23 enquanto ouvia uma música ambiente calma e fina, bebendo uma taça de champagne. O marido no quarto apenas ouvia um murmurinho enquanto sua mulher escutava gemidos e os procurava desconfiadamente. Era Gabrielly a empregada, que era safada mesmo.
Uma batida na Avenida atrasava um jovem estudante pobre e sem dinheiro para o seu encontro romântico. Ele havia conhecido alguém especial em uma pagina de relacionamentos online semana passada. Conversaram sobre vários tópicos interessantes; ambos tiveram oportunidades de confessar segredos selecionados por mensagens de texto. Decidiram se conhecer e levar tudo numa boa. Ela procurava se vingar do ex enquanto ele tentava mais uma vez o amor. Por uma semana foram felizes fingindo ser um casal que daria certo. Um mês depois, quando ela estava completamente apaixonada, ele olhou em seus olhos e disse que havia teclado com outra menina e que não era justo com ninguém continuar prolongando o fim.
Os amigos de faculdade a consolavam. Havia esse rapaz insuportável que sempre chegava um pouco mais cedo; o querido dos professores. Eu não o conhecia pessoalmente, mas já sabia bastante sobre ele: ele é irritavelmente aplicado e se dedica aos seus estudos. Às vezes, quando olho pra ele, sinto raiva e depois inveja. Em seguida penso que nunca serei assim, em partes porque não quero. Por isso, ela se sentia sinto burra e acomodada. No final descobriria que não estaria na faculdade certa, como antes, e trancaria o curso para poder trocar de área novamente.
Ele se sente que apenas se apaixonaria por uma pessoa que soubesse dados sobre as coisas para ele ou que por acaso cantasse suas musicas favoritas. Gostaria de conhecer um homem que o desafiasse intelectualmente, uma vez que todos sabem que ele é um gênio, Fazia questão de deixar isso claro: aplicava todo o dinheiro de sua bolsa de pesquisa em livros e cursos. Era até bonito, uma vez que o conhecesse fora da academia. Não encontraria tal pessoa; apenas outros mais bonitos em festinhas ou baladas. Seu coração seria quebrado ao meio definitivamente quando ele se apaixonasse por um rapaz extremamente lindo que estava viajando para Irlanda em Julho, no mês do seu aniversário.
Ele havia inventado uma desculpa idiota pra evitar uma tragédia. Na verdade, ele era professor de História de uma escola pública e estava cansado de relacionamentos. Dessa vez o rapaz havia perturbado tanto que ele precisou mentir descaradamente Sempre tivera uma paixão inesquecível pela Irlanda. Imaginava-se vivendo vários anos felizes naquele lugar frio, bebendo cerveja e se aquecendo perto de uma lareira. Era uma vida feliz que sonhava ter.. Iria para a Irlanda, claro, mas não agora. Na verdade, passaria a sexta feira em seu apartamento pedira uma pizza, falaria com uma atendente burra e morreria, ainda sem saber se as suas promessas de algo melhor seriam cumpridas ou não.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Parte 4 - Luz, camera e ação.
A partir de certa hora, eu apenas me reclinava sobre a sacada e observava por vários minutos aquelas pessoas dançar, completamente extasiadas – algumas, inclusive, sob o efeito de drogas. Quando isso acontecia, eu retirava a minha câmera e filmava aqueles desconhecidos em seus momentos de glória. Havia aquele rapaz muito bêbado que chamava atenção, aquela outra menina que gostava de dançar até o chão. Bem no meio havia um casal que se beijava e logo atrás tinha aquele rapaz tímido que ficava balançando a cabeça. Olhando no visor da máquina, perdido, perto da escada havia um rapaz. Algo nele, perto da escada que dava acesso a parte superior, me encantava; de olhos fechados, ele usava suas mãos para dançar majestosamente – como se aquilo fosse a sua vida. Seus movimentos eram coordenados e isso o permitia segurar a bebida transparente no copo de plástico enquanto se movia. Em alguns momentos ele parecia desaparecer daquele lugar e ir para outra dimensão; um lugar em que todos eram felizes.
A câmera repousa nele, gravando por alguns minutos aquela tranqüilidade. Ele abre os olhos, despertando de sua bela vida. Olha para os cantos, procurando alguém. Bebe um pouco e olha em minha direção. Imediatamente eu movo a câmera para outra pessoa – um bêbado que dançava ridiculamente. Discretamente tento reposicionar a câmera no rosto do garoto da escada. Ele ainda olhava pra mim. Eu, um pouco reticente, decido continuar filmando. Ele, sério, continua olhando na minha direção, como se quase adivinhando que entre várias pessoas naquele lugar eu realmente o filmava.
Ele levanta a cerveja em minha direção e acena. Sorri e logo depois vai embora.
Pouco depois o vejo subindo a escada, sem dificuldades para me filmar. Decido continuar filmando. Ele chegou um pouco destemido, visivelmente envergonhado, perguntando se nós poderíamos conversar. Na mão, uma cerveja. “Cê quer?” Eu acenei e sorri, mas estava muito escuro pra ele poder perceber. Despertei da monotaneidade que ficar observando as outras pessoas dançar causa e entrei em um novo clima de liberdade e simplicidade que signifivava conseguir amor facilmente.
A música era patética, como sempre, mas todo mundo fingia gostar, porque afinal de contas, era sábado a noite e todos esperavam se divertir. A grande verdade é que ninguém se divertia – isso estava gravado. Todos fingiam que estar naquele lugar significava diversão. No dia seguinte, provavelmente, eles contariam aos amigos que dançaram pencas, que beberam pencas, que pegaram pencas, que estão de ressaca e que eles deveriam ter ido.
Eu pensava nessas coisas.
Eu notava que ele tentava falar alguma coisa, mas eu não conseguia ouvir. Eu sinalizei com o meu dedo apontado ao ouvido, sinal suficiente para ele entender que tinha muito barulho. Ele sorriu, olhou pra baixo e levantou as mãos, aproveitando a música. Eu simplesmente dei um longo gole; a cerveja estava com um gosto horrível.
Ele tentou novamente falar algo, dessa vez gritando mais próximo do meu ouvido. Eu ainda não havia entendido, mas balancei a cabeça e disse sorrindo: eéééééé!! Então, ele chegou mais perto e pôs a mão na minha cintura, me empurrando contra o corpo dele. Pude sentir a barriga definida – realmente, era alguém bonito. Ele chegou ainda mais perto e dessa vez falou mais baixo: me beija.
De repente, a música parou enquanto eu me concentrava nos seus lábios úmidos de cerveja, sentindo aquele bafo meio gelado, meio incomodo e meio sedutor. Fixei meu olhar no rosto dele e sorri. O mais engraçado é que eu havia entendido aquilo. “Me beija”. Pus a palma da minha mão no seu rosto.
- Melhor não.
Ele riu um pouco, de cabeça baixa. Quis saber por quê. Eu apenas dei de ombros e fui embora pra outro lugar. Enquanto eu tentava passar pelas pessoas, eu notei que ele me seguia. Fiquei um pouco nervoso; minhas pernas ainda trêmulas e meu coração acelerado denunciavam a minha fuga. Por entre as pessoas eu não ouvia nem enxergava nada além da saída. Olhei pra trás, procurando seu vulto; apenas notei suas as roupas: camisa gola pólo listrada e calça escura. Tinha um cheiro forte.
Ao constatar que ele havia desistido, fui ao caixa e paguei o que tinha consumido. Ao lado, em um sofá, duas meninas choravam; algo sobre traição de amigos. Estavam bêbadas, claro. A moça oferecia meu troco e eu devolvia um gentil sorriso seguido de um “muito obrigado, boa noite a senhora”.
Sentei no banco de pedra que ficava do lado de fora da boate. Ainda era possível ouvir a música abafada que ditava o ritmo da bendita felicidade que eu nunca conseguia encontrar naquele lugar. Meus ouvidos faziam aquele som estranho de quem sai de um lugar com muito barulho. Com pouco tempo lá fora, pude perceber que era estranhamente calmo do lado de fora. O silêncio só era quebrado pela conversa alta dos taxistas com as garotas de programa.
Retirei a câmera do meu bolso e revi os vídeos – sentindo, dessa vez, raiva, por não ter permanecido e aproveitado. Como eu poderia me denominar feliz, se nem ao menos consigo ficar em um lugar cheio de felicidade? Revi os vídeos dos estranhos, pensando em talvez editar e fazer um documentário sobre essa vida de noite. Uma risada alta cruzava a rua inteira. Discretamente apontei minha câmera para a loira de mini saia preta.
Por alguns minutos foi possível escutar as aventuras recentes da garota de programa. Ela falava dos fatos engraçados, dos ócios do oficio e de como garota de programa era mal remunerada. Falava dos produtos de beleza, das exigências que os senhores faziam e de como eles a tratavam bem. O taxista, de repente, olha em minha direção e imediatamente a loira se aproxima, desfilando. Ao chegar mais perto da luz pude perceber que suas feições eram mais masculinas. Era um homem ou uma mulher?
- Oi gatinho, me filmando né?
Fiquei calado.
- Calma, calma, pode filmar se você quiser. Sem paranóia ok? É 100 reais. Sou ativa e passiva. O que você quiser.
Acenei com a cabeça e apontei a câmera para a sua face.
- Meu nome é Paola. Como o gatinho se chama?
- Carlos.
A câmera repousa nele, gravando por alguns minutos aquela tranqüilidade. Ele abre os olhos, despertando de sua bela vida. Olha para os cantos, procurando alguém. Bebe um pouco e olha em minha direção. Imediatamente eu movo a câmera para outra pessoa – um bêbado que dançava ridiculamente. Discretamente tento reposicionar a câmera no rosto do garoto da escada. Ele ainda olhava pra mim. Eu, um pouco reticente, decido continuar filmando. Ele, sério, continua olhando na minha direção, como se quase adivinhando que entre várias pessoas naquele lugar eu realmente o filmava.
Ele levanta a cerveja em minha direção e acena. Sorri e logo depois vai embora.
Pouco depois o vejo subindo a escada, sem dificuldades para me filmar. Decido continuar filmando. Ele chegou um pouco destemido, visivelmente envergonhado, perguntando se nós poderíamos conversar. Na mão, uma cerveja. “Cê quer?” Eu acenei e sorri, mas estava muito escuro pra ele poder perceber. Despertei da monotaneidade que ficar observando as outras pessoas dançar causa e entrei em um novo clima de liberdade e simplicidade que signifivava conseguir amor facilmente.
A música era patética, como sempre, mas todo mundo fingia gostar, porque afinal de contas, era sábado a noite e todos esperavam se divertir. A grande verdade é que ninguém se divertia – isso estava gravado. Todos fingiam que estar naquele lugar significava diversão. No dia seguinte, provavelmente, eles contariam aos amigos que dançaram pencas, que beberam pencas, que pegaram pencas, que estão de ressaca e que eles deveriam ter ido.
Eu pensava nessas coisas.
Eu notava que ele tentava falar alguma coisa, mas eu não conseguia ouvir. Eu sinalizei com o meu dedo apontado ao ouvido, sinal suficiente para ele entender que tinha muito barulho. Ele sorriu, olhou pra baixo e levantou as mãos, aproveitando a música. Eu simplesmente dei um longo gole; a cerveja estava com um gosto horrível.
Ele tentou novamente falar algo, dessa vez gritando mais próximo do meu ouvido. Eu ainda não havia entendido, mas balancei a cabeça e disse sorrindo: eéééééé!! Então, ele chegou mais perto e pôs a mão na minha cintura, me empurrando contra o corpo dele. Pude sentir a barriga definida – realmente, era alguém bonito. Ele chegou ainda mais perto e dessa vez falou mais baixo: me beija.
De repente, a música parou enquanto eu me concentrava nos seus lábios úmidos de cerveja, sentindo aquele bafo meio gelado, meio incomodo e meio sedutor. Fixei meu olhar no rosto dele e sorri. O mais engraçado é que eu havia entendido aquilo. “Me beija”. Pus a palma da minha mão no seu rosto.
- Melhor não.
Ele riu um pouco, de cabeça baixa. Quis saber por quê. Eu apenas dei de ombros e fui embora pra outro lugar. Enquanto eu tentava passar pelas pessoas, eu notei que ele me seguia. Fiquei um pouco nervoso; minhas pernas ainda trêmulas e meu coração acelerado denunciavam a minha fuga. Por entre as pessoas eu não ouvia nem enxergava nada além da saída. Olhei pra trás, procurando seu vulto; apenas notei suas as roupas: camisa gola pólo listrada e calça escura. Tinha um cheiro forte.
Ao constatar que ele havia desistido, fui ao caixa e paguei o que tinha consumido. Ao lado, em um sofá, duas meninas choravam; algo sobre traição de amigos. Estavam bêbadas, claro. A moça oferecia meu troco e eu devolvia um gentil sorriso seguido de um “muito obrigado, boa noite a senhora”.
Sentei no banco de pedra que ficava do lado de fora da boate. Ainda era possível ouvir a música abafada que ditava o ritmo da bendita felicidade que eu nunca conseguia encontrar naquele lugar. Meus ouvidos faziam aquele som estranho de quem sai de um lugar com muito barulho. Com pouco tempo lá fora, pude perceber que era estranhamente calmo do lado de fora. O silêncio só era quebrado pela conversa alta dos taxistas com as garotas de programa.
Retirei a câmera do meu bolso e revi os vídeos – sentindo, dessa vez, raiva, por não ter permanecido e aproveitado. Como eu poderia me denominar feliz, se nem ao menos consigo ficar em um lugar cheio de felicidade? Revi os vídeos dos estranhos, pensando em talvez editar e fazer um documentário sobre essa vida de noite. Uma risada alta cruzava a rua inteira. Discretamente apontei minha câmera para a loira de mini saia preta.
Por alguns minutos foi possível escutar as aventuras recentes da garota de programa. Ela falava dos fatos engraçados, dos ócios do oficio e de como garota de programa era mal remunerada. Falava dos produtos de beleza, das exigências que os senhores faziam e de como eles a tratavam bem. O taxista, de repente, olha em minha direção e imediatamente a loira se aproxima, desfilando. Ao chegar mais perto da luz pude perceber que suas feições eram mais masculinas. Era um homem ou uma mulher?
- Oi gatinho, me filmando né?
Fiquei calado.
- Calma, calma, pode filmar se você quiser. Sem paranóia ok? É 100 reais. Sou ativa e passiva. O que você quiser.
Acenei com a cabeça e apontei a câmera para a sua face.
- Meu nome é Paola. Como o gatinho se chama?
- Carlos.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Parte 3 - O silêncio impertubável das folhas ancestrais,
- Alice.
Eu disse baixo o nome, assim, seco, sem vida, como se fosse um substantivo qualquer, quando percebi alguém de cabelo curto se aproximar. Era ela acompanhada de seu semblante preocupado – as sobrancelhas denunciavam dramaticamente que algo acontecera a pouco. Me pergunto como ela conseguiu me encontrar sem ao menos ter me ligado para confirmar o nosso almoço.
- Beto, Beto, Beto!
Pos a sua mãozinha na testa e sentou em uma parte da raiz. Logo começou a falar mais e mais de como fora a sua aula e o quão medíocre ela se sentiu ao constatar que ela era a única do seu curso que realmente gostava de moda pela moda.
- Alice, você deveria fazer outra coisa.
- Tá louco? Não, não, não! Eu me recuso a desistir logo tão perto de me formar. Quando eu me formar tudo vai ser diferente, vou poder viver da minha moda, e não dessas coisas fabricadas para agradar e dar dinheiro. Eu me pergunto o que seria da Amanda sem as coisas de marca. Não posso negar que são lindas; realmente são. Mas ela não é aquilo, ela é apenas a marca, e isso ta errado. Você ficou aqui o dia inteiro?
Acenei positivamente. Alice tinha razão, em partes. Eu me sentia bem com minhas roupas de marca. Me sinto tão valorizado. Talvez essa Amanda ai apenas queria isso: valor. Deve ser uma dessas pessoas com dinheiro que gostam de viver em um mundo compartilhado. Amanda deve ser isso: vazia.
- Beto, e o Carlos hein?! Nossa, meu, ele não ligou. Ele sempre liga! Já passou meia hora e nada. E o pior é que eu não sei se eu ligo ou se eu apareço no Bloco H procurando ele. Ai, sei não, aparecer assim, coisa de mina louca; vai que ele ta lá com aqueles imbecis da arquitetura? Ai, amigo, o que eu faço? Eu sei que ele se tocou, ele é muito perspicaz. E o pior é esse tratamento de choque! Antes de você chegar nós estávamos conversando sobre o fim de semana, sabe, sobre aquele churrasco que rolou na casa do Tio dele. Ele tava lá super feliz com os amigos e a família. Acho que foi algo importante pra gente, sabe, a mãe dele até veio falar pra mim que ele raramente trás namoradas pra família conhecer. Ela mesma só conhecia aquela vaca da ex-namorada que foi pra Londres e deixou ele sozinho. Quatro anos Beto, quatro anos! Como é que ela foi capaz de deixar o Carlos aqui, só. A sogrinha tava contando que foi por esse tempo que ele conheceu o melhor amigo. Ele tava lá também e, meu deus, é um gato! Você nem acreditaria no que...
Penso que eu faria a mesma coisa e não pensaria no que poderia ter acontecido caso eu não fosse. Estamos falando de Londres, uma cidade linda, com pessoa que falam somente Ingles. Definitivamente, essa cidade é muito pequena pra mim, aqui não tem nada que me sustente, emocionalmente, artisticamente e financeiramente falando. Detesto essas pessoas, detesto esse lugar. Acho que essa ex-namorada do Carlos fez certo em ir e buscar outras aventuras. Acho que a Alice apenas não entende. Alice, Alice.
- Então, foi isso, a mãe dele me contou tudo sobre ele e esse namorinho idiota com aquela patricinha com quem ele estudou no tempo da escola. Desde então eu tenho tentado fazer ele falar sobre esse relacionamento com ela, mas, sabe, sem nunca revelar que eu sei de nada. Até mesmo porque eu realmente não sei de nada; tecnicamente, ele nunca me falou dos relacionamentos que ele teve antes de mim – ele nunca fala, é reservado, calmo, extremamente controlado. Mas quer saber, ele é um palerma e diz que não gosta muito de falar sobre as coisas e tal, mas eu sei que ele não fala mesmo porque ainda deve doer bastante.
Alice calou-se e imediatamente pôs as mãos na cabeça, pondo-se a segurar o belo cabelo com uma força incrível. O silencio vindo da ausência de suas palavras me exigia manifestar algo gentil. Alice, finalmente destruindo a harmonia sonora causada pelas folhas da árvore balançando, propôs sairmos do lugar e comermos. Andamos até o restaurante self-service que havia do outro lado da rua, perto da banca de revistas.
- Vamos sentar ali na parede, porque eu gosto um pouco dessa parte escura desse lugar ok? Ai, Beto, eu não sei, eu não sei, eu to sendo uma chata contigo né? Você ai deve ta escutando tudo e pensando como eu sou insegura. Eu sou mesmo, Beto, você sabe, sempre fui assim. As pessoas me chamam de linda e tal, enfatizam que os meus olhos são lindos e os homens realmente fazem muitas coisas pra poder ficar comigo. Mas o Carlos foi tão diferente; sei lá, ele é tímido de verdade, não foi só fingimento. Ele é reservado, cavalheiro, lindo e sabe me proporcionar esses momentos em que eu me sinto a mulher mais feliz do mundo. Não quero que acabe. Eu estou feliz após vários relacionamentos que acabaram da pior maneira possível, você sabe, Tales, Marcos, Robson, Eduardo, Adriano, todos esses e os que vieram antes deles também! Eu quero me focar na minha carreira, quero por pra frente os meus projetos, mas, agora mesmo, eu só to pensando no Carlos. Falando em Carlos, se lembra daquele melhor dele amigo que eu te falei? Ele é um gato, olhá lá, ta entrando agora de camisa social azul e calça branca, vou chamá-lo para almoçar com a gente, algum problema?
Foi então que, sem sequer eu perceber, Alice acenava para o cara que eu estava comigo mais cedo na parada de ônibus.
Eu disse baixo o nome, assim, seco, sem vida, como se fosse um substantivo qualquer, quando percebi alguém de cabelo curto se aproximar. Era ela acompanhada de seu semblante preocupado – as sobrancelhas denunciavam dramaticamente que algo acontecera a pouco. Me pergunto como ela conseguiu me encontrar sem ao menos ter me ligado para confirmar o nosso almoço.
- Beto, Beto, Beto!
Pos a sua mãozinha na testa e sentou em uma parte da raiz. Logo começou a falar mais e mais de como fora a sua aula e o quão medíocre ela se sentiu ao constatar que ela era a única do seu curso que realmente gostava de moda pela moda.
- Alice, você deveria fazer outra coisa.
- Tá louco? Não, não, não! Eu me recuso a desistir logo tão perto de me formar. Quando eu me formar tudo vai ser diferente, vou poder viver da minha moda, e não dessas coisas fabricadas para agradar e dar dinheiro. Eu me pergunto o que seria da Amanda sem as coisas de marca. Não posso negar que são lindas; realmente são. Mas ela não é aquilo, ela é apenas a marca, e isso ta errado. Você ficou aqui o dia inteiro?
Acenei positivamente. Alice tinha razão, em partes. Eu me sentia bem com minhas roupas de marca. Me sinto tão valorizado. Talvez essa Amanda ai apenas queria isso: valor. Deve ser uma dessas pessoas com dinheiro que gostam de viver em um mundo compartilhado. Amanda deve ser isso: vazia.
- Beto, e o Carlos hein?! Nossa, meu, ele não ligou. Ele sempre liga! Já passou meia hora e nada. E o pior é que eu não sei se eu ligo ou se eu apareço no Bloco H procurando ele. Ai, sei não, aparecer assim, coisa de mina louca; vai que ele ta lá com aqueles imbecis da arquitetura? Ai, amigo, o que eu faço? Eu sei que ele se tocou, ele é muito perspicaz. E o pior é esse tratamento de choque! Antes de você chegar nós estávamos conversando sobre o fim de semana, sabe, sobre aquele churrasco que rolou na casa do Tio dele. Ele tava lá super feliz com os amigos e a família. Acho que foi algo importante pra gente, sabe, a mãe dele até veio falar pra mim que ele raramente trás namoradas pra família conhecer. Ela mesma só conhecia aquela vaca da ex-namorada que foi pra Londres e deixou ele sozinho. Quatro anos Beto, quatro anos! Como é que ela foi capaz de deixar o Carlos aqui, só. A sogrinha tava contando que foi por esse tempo que ele conheceu o melhor amigo. Ele tava lá também e, meu deus, é um gato! Você nem acreditaria no que...
Penso que eu faria a mesma coisa e não pensaria no que poderia ter acontecido caso eu não fosse. Estamos falando de Londres, uma cidade linda, com pessoa que falam somente Ingles. Definitivamente, essa cidade é muito pequena pra mim, aqui não tem nada que me sustente, emocionalmente, artisticamente e financeiramente falando. Detesto essas pessoas, detesto esse lugar. Acho que essa ex-namorada do Carlos fez certo em ir e buscar outras aventuras. Acho que a Alice apenas não entende. Alice, Alice.
- Então, foi isso, a mãe dele me contou tudo sobre ele e esse namorinho idiota com aquela patricinha com quem ele estudou no tempo da escola. Desde então eu tenho tentado fazer ele falar sobre esse relacionamento com ela, mas, sabe, sem nunca revelar que eu sei de nada. Até mesmo porque eu realmente não sei de nada; tecnicamente, ele nunca me falou dos relacionamentos que ele teve antes de mim – ele nunca fala, é reservado, calmo, extremamente controlado. Mas quer saber, ele é um palerma e diz que não gosta muito de falar sobre as coisas e tal, mas eu sei que ele não fala mesmo porque ainda deve doer bastante.
Alice calou-se e imediatamente pôs as mãos na cabeça, pondo-se a segurar o belo cabelo com uma força incrível. O silencio vindo da ausência de suas palavras me exigia manifestar algo gentil. Alice, finalmente destruindo a harmonia sonora causada pelas folhas da árvore balançando, propôs sairmos do lugar e comermos. Andamos até o restaurante self-service que havia do outro lado da rua, perto da banca de revistas.
- Vamos sentar ali na parede, porque eu gosto um pouco dessa parte escura desse lugar ok? Ai, Beto, eu não sei, eu não sei, eu to sendo uma chata contigo né? Você ai deve ta escutando tudo e pensando como eu sou insegura. Eu sou mesmo, Beto, você sabe, sempre fui assim. As pessoas me chamam de linda e tal, enfatizam que os meus olhos são lindos e os homens realmente fazem muitas coisas pra poder ficar comigo. Mas o Carlos foi tão diferente; sei lá, ele é tímido de verdade, não foi só fingimento. Ele é reservado, cavalheiro, lindo e sabe me proporcionar esses momentos em que eu me sinto a mulher mais feliz do mundo. Não quero que acabe. Eu estou feliz após vários relacionamentos que acabaram da pior maneira possível, você sabe, Tales, Marcos, Robson, Eduardo, Adriano, todos esses e os que vieram antes deles também! Eu quero me focar na minha carreira, quero por pra frente os meus projetos, mas, agora mesmo, eu só to pensando no Carlos. Falando em Carlos, se lembra daquele melhor dele amigo que eu te falei? Ele é um gato, olhá lá, ta entrando agora de camisa social azul e calça branca, vou chamá-lo para almoçar com a gente, algum problema?
Foi então que, sem sequer eu perceber, Alice acenava para o cara que eu estava comigo mais cedo na parada de ônibus.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Parte 2 - O vinho no tapete felpudo sustenta um homem bebado
Era noite e ele já havia aberto uma segunda garrafa de vinho. Celebrava a sua nova resolução que conferia não contar jamais nenhum de seus problemas aos amigos – decisão tomada baseada na exclusiva falta de interesse dos seus amigos pelos problemas. Ai amigo, relaxa, tudo vai ficar bem, você vai encontrar uma pessoa e vai ser muito feliz. Um brinde a quem é imbecil o suficiente para acreditar que eu, logo eu, vou ter tal destino. Não espero ser tratado como pessimista ou como louco, pois realmente prefiro o termo “sensível demais às coisas”. Ora, é um fato concreto: houvera passado metade de sua vida a procura de tal pessoa, de tal felicidade proveniente de relacionamentos saudáveis e a encontrara somente pessoas repugnantes de atos perversos.
Celebrava a felicidade, inclusive nos momentos mais tristes, ainda que como uma máscara tão adequada aos momentos que houvera deixado suas marcas na face úmida. Todas essas linhas, todo esse aspecto de vida, um dia sumiriam e elem deixaria a sua marca no mundo.
Era alguém, que, sobretudo, merecia encontrar o que ele procurava. Mais do que merecer, ele precisava disso para continuar vivendo, pois não aceitaria viver sequer mais um ano sentindo inveja das situações que todos tiveram, exceto ele. Contava nos poucos dedos as pessoas que havia beijado ou com quem havia feito sexo – repetia a si, logo após os números baixos, que isso tudo era resultado de um trabalho árduo de preservação e certezas que ele tão humildemente julgava ter sobre as coisas. Gostava de pensar sobre si como uma pessoa ciente das coisas, mesmo sem não tê-las vivido pessoalmente.
Engana-se quem pensa que falamos de um homem qualquer; era um sujeito distinto e suficientemente confiante de si – até alguém que importasse o dizer justamente o contrário. Acreditava, principalmente, que pessoas que ele admirava tinham um poder sobre ele – algo que ele julgava como magia, mas que na verdade, era apenas a gana por um artifício mágico que não se encontrava em qualquer um.
- Qual é esse problema da humanidade que não me reconhece como um homem digno de carinho? O que há dentro dessas cabeças que eu tanto admiro que insistem em me ver como algo indigno de um segundo olhar? Eu sou excelente! Eu sou um excelente profissional, bonito e charmoso, que posso fornecer uma vida confortável a qualquer pessoa que deseje unir-se à minha vida! E por que todo mundo insiste em me abandonar, ou, por vezes, me trocar por uma versão mais magra, ou mais simples?
Já estava trôpego, discursando por sobre o sofá, apontando a taça de vinho tinto para um quadro que exibia a pintura de uma mulher perdida na selva. O ventilador de teto estava ligado, as luzes estavam acesas e o som estava ligado – enfim, as coisas funcionavam. Ele pensava exatamente nisso: como era engraçado tudo, exceto ele, funcionar. Rapidamente, tropeçando pelas almofadas e derrubando no tapete o resto de vinho que estava na garrafa, ele desligou o som e já com a mão estendida, voou em direção ao interruptor, arrematando em um só golpe os três botões da parede – dois das luzes e o do meio, que dizia respeito apenas ao ventilador.
Pronto, escuridão e silêncio o levariam, assim que possível, ao sono. Ele dormiria se sentindo frustrado, resmungando palavras inaudíveis, ainda vestindo a roupa que estava usando no trabalho. Deitaria no chão, agarraria uma almofada e choraria. Logo em seguida ele poria suas mãos no tapete felpudo e sentiria o conforto das suas coisas. No meio da noite, viraria seu corpo na direção contrária da luz da lua que entrava pela janela e agarraria a primeira almofada para ser a sua companheira de noite, para poder dar carinho e para não se sentir tão só. Então dormiria humilhado por si.
Despertou em seguida, ainda lembrando do último pensamento que havia tido – enquanto abria seus olhos, procurava reconstruir a sequencia lógica dos fatos que o fizera ter adormecido daquele jeito, naqueles trajes com aquela bagunça. Isso duraria mais do que o necessário, mas pela mesma janela em que a luz da lua entrava na noite passada, a luz do sol, quente, o obrigava a se mexer, a sentir calor e a voltar a viver.
Seria mais fácil hoje; ele viveria o seu dia recordando os fatos de ontem e tentando incorporar mais algum detalhe que o sustentasse dentro de si mesmo. Logo seria uma nova hora do dia e ele comeria torradas com geléia após ter tomado um banho longo e revigorante. Depois, observaria a bagunça e até tentaria começar a limpar algo, mas antes olharia o grande relógio de parede na sala e constataria estar mais atrasado que o usual. Isso o faria correr para o quarto e vestir a primeira roupa que ele encontrasse no armário bagunçado – uma calça preta, uma blusa social azul e um sapato branco. Poria a bolsa marrom e verde e no caminho para a Universidade espalharia um pouco de perfume em si.
Estaria pronto, então, para mais um dia.
Celebrava a felicidade, inclusive nos momentos mais tristes, ainda que como uma máscara tão adequada aos momentos que houvera deixado suas marcas na face úmida. Todas essas linhas, todo esse aspecto de vida, um dia sumiriam e elem deixaria a sua marca no mundo.
Era alguém, que, sobretudo, merecia encontrar o que ele procurava. Mais do que merecer, ele precisava disso para continuar vivendo, pois não aceitaria viver sequer mais um ano sentindo inveja das situações que todos tiveram, exceto ele. Contava nos poucos dedos as pessoas que havia beijado ou com quem havia feito sexo – repetia a si, logo após os números baixos, que isso tudo era resultado de um trabalho árduo de preservação e certezas que ele tão humildemente julgava ter sobre as coisas. Gostava de pensar sobre si como uma pessoa ciente das coisas, mesmo sem não tê-las vivido pessoalmente.
Engana-se quem pensa que falamos de um homem qualquer; era um sujeito distinto e suficientemente confiante de si – até alguém que importasse o dizer justamente o contrário. Acreditava, principalmente, que pessoas que ele admirava tinham um poder sobre ele – algo que ele julgava como magia, mas que na verdade, era apenas a gana por um artifício mágico que não se encontrava em qualquer um.
- Qual é esse problema da humanidade que não me reconhece como um homem digno de carinho? O que há dentro dessas cabeças que eu tanto admiro que insistem em me ver como algo indigno de um segundo olhar? Eu sou excelente! Eu sou um excelente profissional, bonito e charmoso, que posso fornecer uma vida confortável a qualquer pessoa que deseje unir-se à minha vida! E por que todo mundo insiste em me abandonar, ou, por vezes, me trocar por uma versão mais magra, ou mais simples?
Já estava trôpego, discursando por sobre o sofá, apontando a taça de vinho tinto para um quadro que exibia a pintura de uma mulher perdida na selva. O ventilador de teto estava ligado, as luzes estavam acesas e o som estava ligado – enfim, as coisas funcionavam. Ele pensava exatamente nisso: como era engraçado tudo, exceto ele, funcionar. Rapidamente, tropeçando pelas almofadas e derrubando no tapete o resto de vinho que estava na garrafa, ele desligou o som e já com a mão estendida, voou em direção ao interruptor, arrematando em um só golpe os três botões da parede – dois das luzes e o do meio, que dizia respeito apenas ao ventilador.
Pronto, escuridão e silêncio o levariam, assim que possível, ao sono. Ele dormiria se sentindo frustrado, resmungando palavras inaudíveis, ainda vestindo a roupa que estava usando no trabalho. Deitaria no chão, agarraria uma almofada e choraria. Logo em seguida ele poria suas mãos no tapete felpudo e sentiria o conforto das suas coisas. No meio da noite, viraria seu corpo na direção contrária da luz da lua que entrava pela janela e agarraria a primeira almofada para ser a sua companheira de noite, para poder dar carinho e para não se sentir tão só. Então dormiria humilhado por si.
Despertou em seguida, ainda lembrando do último pensamento que havia tido – enquanto abria seus olhos, procurava reconstruir a sequencia lógica dos fatos que o fizera ter adormecido daquele jeito, naqueles trajes com aquela bagunça. Isso duraria mais do que o necessário, mas pela mesma janela em que a luz da lua entrava na noite passada, a luz do sol, quente, o obrigava a se mexer, a sentir calor e a voltar a viver.
Seria mais fácil hoje; ele viveria o seu dia recordando os fatos de ontem e tentando incorporar mais algum detalhe que o sustentasse dentro de si mesmo. Logo seria uma nova hora do dia e ele comeria torradas com geléia após ter tomado um banho longo e revigorante. Depois, observaria a bagunça e até tentaria começar a limpar algo, mas antes olharia o grande relógio de parede na sala e constataria estar mais atrasado que o usual. Isso o faria correr para o quarto e vestir a primeira roupa que ele encontrasse no armário bagunçado – uma calça preta, uma blusa social azul e um sapato branco. Poria a bolsa marrom e verde e no caminho para a Universidade espalharia um pouco de perfume em si.
Estaria pronto, então, para mais um dia.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Parte 1 - O feixe de luz na copa da árvore
Eu vi esse garoto encostado em uma árvore na parada de ônibus escutando a sua música. Ele fechava os olhos e tentava expressar exatamente o sentimento que ele sentia ao ouvir a música. Nós, do lado de fora, apenas víamos; alguns riam, outros apenas olhavam – eu admirava. A situação era, realmente, engraçada; ele parecia estar preso em um clipe musical.
De repente, ele parou um pouco e olhou para seu ônibus. Foi então quando eu pude perceber o quão bonito aquele garoto era. Ele usava uma camisa social azul que, por algum motivo, implorava ser abraçada. Sua bolsa verde e marrom segurava um chaveiro com a bandeira do Canadá. Ele usava um sapato branco que estava muito sujo e uma calça completamente preta.
Ao subir no ônibus, ele escolheu um dos cantos e lá permaneceu até o final da viagem aonde desceu comigo, na parada mais próxima à Universidade. Foi somente quando ele passou apressado por mim, olhando para ambos os lados da rua, que eu pude sentir o seu cheiro. Imediatamente, fui obrigado a puxar todo o ar que havia ao meu redor, e viajar pelos lugares mais confortáveis da minha imaginação, e só então, de repente, quando já não tinha mais ar algum para inspirar, eu pude voltar me concentrar nos barulhos do carro e atravessar a rua.
De alguma distância eu o observava andar, entrando pelo pátio da Universidade, passando pelas plantas. Não pude ter certeza, nem jamais poderei, mas eu continuo pensando que ele sorria para as flores enquanto cruzava aquele pátio. Era a minha parte favorita da Universidade, pois nela se encontravam várias flores coloridas; era a minha maneira particular de voltar a sentir a natureza que não havia mais em lugar algum.
Ele continuou andando na minha frente e, ocasionalmente, ele virava a cabeça discretamente, como quem olha pra trás e rapidamente se arrepende de tê-lo feito. Não estava pensando direito, mas talvez fosse possível que ele tenha notado que eu o seguia. Então, por esse único motivo, eu parei um pouco e fiquei observando ele andar ainda mais, até dobrar em um desses prédios e sumir da minha vista.
Pude, então, voltar em paz para o meu próprio lugar e pensar um pouco sobre as coisas que haviam acontecido. Estava um pouco confuso pelo efeito penetrante que aquela pessoa tinha sobre mim. Fui pensando aleatoriamente, de bloco em bloco, esperando passar os 15 primeiros minutos de aula, pensando em quem era aquele rapaz. Andei por fontes, plantas, estatuas e aglomerados de outros alunos.
Avistei Carlos, da Arquitetura, conversando com Alice, sua namorada, perto da árvore que fazia a maior sombra por aquele lugar. Alice parecia um pouco nervosa; não podia dizer nada de Carlos, apenas que ele estava usando uma camisa verde muito interessante. Andei em direção ao casal, ainda sem saber o motivo pelo qual eu deveria me aproximar dos dois. Foi somente quando estava bem perto que pude nota que Alice de repente olhou em minha direção e mudou sua expressão drasticamente, de modo que Carlos pudesse se virar e ver que alguém chegava. É claro que algo estava errado.
- Roberto, cara, quanto tempo!
- Bom dia – digo eu, sorrindo timidamente, segurando com muita força as duas alças da minha mochila pesada.
Roberto sorri de volta e Alice fala alguma coisa sobre alguma coisa que não me interessava, então finjo que escuto e olho para os feixes de luz que saiam da copa da árvore. Era realmente uma árvore muito grande. Ao notar que Alice terminara seu discurso, digo algo do tipo, “será que a gente poderia se encontrar pra almoçar?”. O casal tenta falar algo com dificuldade, se entreolham e, então, Roberto diz que está atrasado para a sua aula e parte, fugindo daquilo tudo.
- Você viu, Beto? Ele ta com ódio de mim por causa daquele lance lá do concurso.
- Ele tava? Não notei nada não – minto. Ele é sempre tão simpático, ainda acho que ele é o melhor namorado que você arrumou.
- Ele ta, eu sei que ele ta, ele não me engana, eu conheço o Carlos. Tu ta indo pra onde?
- Eu tenho que ir praquela aula ridícula do Carneiro.
Alice olha no relógio e alerta efusivamente que já passam 15 minutos após o início da aula. Mesmo não estudando com os mesmos professores, ela sabe que o Carneiro é conhecido por ser um daqueles professores que cobram demais dos alunos e que detesta quando os alunos não são exemplares.
- Eu sei – sorrio agradecido, deixando transparecer que, na verdade, a intenção é realmente irritá-lo.
- Toma cuidado Beto, ele pode...
- Eu sei, ele pode tudo, porque ele é o Carneiro, e está aqui desde sempre, e conhece muitas pessoas capazes de transformar minha vida em um verdadeiro inferno nessa Universidade. Eu sei, eu sei, eu estou ciente de tudo isso.
Alice ri um pouco e enquanto andamos em direção aos nossos respectivos blocos, ela continua falando sobre a certeza absoluta que ela já tem sobre o Carlos está com raiva dela, sobre o lance do seu fim de semana, sobre a sua indecisão de escolher um desenho para a sua nova tatuagem e finalmente, sobre como ela detesta essas meninas frescas que fazem parte da sua turma de Estilismo.
- Uma menina apareceu ontem com uma bolsa de 450 reais – 450 reais! – e eu não acreditei no absurdo que é uma bolsa daquelas. Com certeza, era linda. Com certeza, ela tem dinheiro pra gastar... mas parece tão errado. Ai meu deus, são 08:00! Beto, to super atrasada, a gente almoça, né? Me liga as 11:15, ok? Valeu por sempre me escutar, você salvou o meu dia, tchaaaaaaaau.
Alice deu meia volta, correndo e desviando de vários bancos e pessoas. Antes de dobrar na primeira entrada, parou um pouco, olhou pra mim e acenou novamente com a mão, erguendo o mais alto possível. Logo em seguida mandou um beijo e desapareceu.
Permaneci parado, olhando para o lugar em que Alice houvera a pouco me entregado seu beijo. Fechei meus olhos um pouco. Eu ainda estava um pouco confuso com aquele cheiro; por algum motivo parecia que aquele mesmo cheiro já fora importante para mim em algum momento. Eu ainda estava segurando a alça da minha bolsa firmemente, quando eu abri os olhos. Num ato automático, soltei uma das mãos e deixei um dos olhos observar o relógio. Estava um pouco mais tarde do que eu imaginava.
Dei meia volta em direção àquela árvore que nós estávamos há poucos instantes e me reclinei sobre seu tronco. Fui deslizando lenta e dolorosamente em direção à grama fria do chão. Eu havia fracassado; no final, eu já sábia. Não adiantava mais chegar a aula, pois eu já estava atrasado para estar atrasado. Ainda havia vários minutos antes da aula do segundo período começar. Por isso, retirei da minha bolsa um livro e comecei a lê-lo.
De repente, ele parou um pouco e olhou para seu ônibus. Foi então quando eu pude perceber o quão bonito aquele garoto era. Ele usava uma camisa social azul que, por algum motivo, implorava ser abraçada. Sua bolsa verde e marrom segurava um chaveiro com a bandeira do Canadá. Ele usava um sapato branco que estava muito sujo e uma calça completamente preta.
Ao subir no ônibus, ele escolheu um dos cantos e lá permaneceu até o final da viagem aonde desceu comigo, na parada mais próxima à Universidade. Foi somente quando ele passou apressado por mim, olhando para ambos os lados da rua, que eu pude sentir o seu cheiro. Imediatamente, fui obrigado a puxar todo o ar que havia ao meu redor, e viajar pelos lugares mais confortáveis da minha imaginação, e só então, de repente, quando já não tinha mais ar algum para inspirar, eu pude voltar me concentrar nos barulhos do carro e atravessar a rua.
De alguma distância eu o observava andar, entrando pelo pátio da Universidade, passando pelas plantas. Não pude ter certeza, nem jamais poderei, mas eu continuo pensando que ele sorria para as flores enquanto cruzava aquele pátio. Era a minha parte favorita da Universidade, pois nela se encontravam várias flores coloridas; era a minha maneira particular de voltar a sentir a natureza que não havia mais em lugar algum.
Ele continuou andando na minha frente e, ocasionalmente, ele virava a cabeça discretamente, como quem olha pra trás e rapidamente se arrepende de tê-lo feito. Não estava pensando direito, mas talvez fosse possível que ele tenha notado que eu o seguia. Então, por esse único motivo, eu parei um pouco e fiquei observando ele andar ainda mais, até dobrar em um desses prédios e sumir da minha vista.
Pude, então, voltar em paz para o meu próprio lugar e pensar um pouco sobre as coisas que haviam acontecido. Estava um pouco confuso pelo efeito penetrante que aquela pessoa tinha sobre mim. Fui pensando aleatoriamente, de bloco em bloco, esperando passar os 15 primeiros minutos de aula, pensando em quem era aquele rapaz. Andei por fontes, plantas, estatuas e aglomerados de outros alunos.
Avistei Carlos, da Arquitetura, conversando com Alice, sua namorada, perto da árvore que fazia a maior sombra por aquele lugar. Alice parecia um pouco nervosa; não podia dizer nada de Carlos, apenas que ele estava usando uma camisa verde muito interessante. Andei em direção ao casal, ainda sem saber o motivo pelo qual eu deveria me aproximar dos dois. Foi somente quando estava bem perto que pude nota que Alice de repente olhou em minha direção e mudou sua expressão drasticamente, de modo que Carlos pudesse se virar e ver que alguém chegava. É claro que algo estava errado.
- Roberto, cara, quanto tempo!
- Bom dia – digo eu, sorrindo timidamente, segurando com muita força as duas alças da minha mochila pesada.
Roberto sorri de volta e Alice fala alguma coisa sobre alguma coisa que não me interessava, então finjo que escuto e olho para os feixes de luz que saiam da copa da árvore. Era realmente uma árvore muito grande. Ao notar que Alice terminara seu discurso, digo algo do tipo, “será que a gente poderia se encontrar pra almoçar?”. O casal tenta falar algo com dificuldade, se entreolham e, então, Roberto diz que está atrasado para a sua aula e parte, fugindo daquilo tudo.
- Você viu, Beto? Ele ta com ódio de mim por causa daquele lance lá do concurso.
- Ele tava? Não notei nada não – minto. Ele é sempre tão simpático, ainda acho que ele é o melhor namorado que você arrumou.
- Ele ta, eu sei que ele ta, ele não me engana, eu conheço o Carlos. Tu ta indo pra onde?
- Eu tenho que ir praquela aula ridícula do Carneiro.
Alice olha no relógio e alerta efusivamente que já passam 15 minutos após o início da aula. Mesmo não estudando com os mesmos professores, ela sabe que o Carneiro é conhecido por ser um daqueles professores que cobram demais dos alunos e que detesta quando os alunos não são exemplares.
- Eu sei – sorrio agradecido, deixando transparecer que, na verdade, a intenção é realmente irritá-lo.
- Toma cuidado Beto, ele pode...
- Eu sei, ele pode tudo, porque ele é o Carneiro, e está aqui desde sempre, e conhece muitas pessoas capazes de transformar minha vida em um verdadeiro inferno nessa Universidade. Eu sei, eu sei, eu estou ciente de tudo isso.
Alice ri um pouco e enquanto andamos em direção aos nossos respectivos blocos, ela continua falando sobre a certeza absoluta que ela já tem sobre o Carlos está com raiva dela, sobre o lance do seu fim de semana, sobre a sua indecisão de escolher um desenho para a sua nova tatuagem e finalmente, sobre como ela detesta essas meninas frescas que fazem parte da sua turma de Estilismo.
- Uma menina apareceu ontem com uma bolsa de 450 reais – 450 reais! – e eu não acreditei no absurdo que é uma bolsa daquelas. Com certeza, era linda. Com certeza, ela tem dinheiro pra gastar... mas parece tão errado. Ai meu deus, são 08:00! Beto, to super atrasada, a gente almoça, né? Me liga as 11:15, ok? Valeu por sempre me escutar, você salvou o meu dia, tchaaaaaaaau.
Alice deu meia volta, correndo e desviando de vários bancos e pessoas. Antes de dobrar na primeira entrada, parou um pouco, olhou pra mim e acenou novamente com a mão, erguendo o mais alto possível. Logo em seguida mandou um beijo e desapareceu.
Permaneci parado, olhando para o lugar em que Alice houvera a pouco me entregado seu beijo. Fechei meus olhos um pouco. Eu ainda estava um pouco confuso com aquele cheiro; por algum motivo parecia que aquele mesmo cheiro já fora importante para mim em algum momento. Eu ainda estava segurando a alça da minha bolsa firmemente, quando eu abri os olhos. Num ato automático, soltei uma das mãos e deixei um dos olhos observar o relógio. Estava um pouco mais tarde do que eu imaginava.
Dei meia volta em direção àquela árvore que nós estávamos há poucos instantes e me reclinei sobre seu tronco. Fui deslizando lenta e dolorosamente em direção à grama fria do chão. Eu havia fracassado; no final, eu já sábia. Não adiantava mais chegar a aula, pois eu já estava atrasado para estar atrasado. Ainda havia vários minutos antes da aula do segundo período começar. Por isso, retirei da minha bolsa um livro e comecei a lê-lo.
sábado, 28 de janeiro de 2012
Comemorando 3 anos sem vinho
Estou na segunda taça de vinho. Uma taça real, que custou exatamente seu valor. Foi comprada em um final de tarde em um mercado qualquer. Foi comprada exatamente para esse momento em que o gosto do vinho se perpetuava nos pontos da língua. Eu como sempre, pensando de mais sobre o significado do beijo e do vinho. Bebo só e estou refletindo sobre os outros significados e projeções. Confesso que estou orgulhoso por algo que eu nem mesmo reconheço; escondo de todos, mas embora não tenha admitido ainda, sinto uma grande falta de uma outra pessoa em mim. Há quem diga que é preciso ser feliz sozinho – eu inclusive. Não sei se acredito nisso ainda. Sei apenas que sou feliz porque faço o que quero sempre que quero e não me limito a ser coadjuvante na minha vida. Sinto falta do mocinho sem nem mesmo conhecê-lo, sem ao menos saber se um dia ele vai existir. Um brinde a ele, esse rapaz incrivel que vai me enfeitiçar e me enlouquecer. De antemão lhe digo que estou com raiva por você não ter feito tanto esforço pra me encontrar... eu lhe procurei, ok? Eu fiz as coisas mais estupidas pensando que eu pudesse lhe encontrar nos lugares mais inusitados, nas atitudes mais mesquinhas, perto de conhecidos tão desconhecidos. Eu tentei, demais, entrar em contato contigo; lhe procurei em cada outro rapaz que me entristeceu. Nunca julgue o meu amor, nunca me ponha em cheque e nunca ache que eu não lhe quis: estou lhe dando provas de amor antes mesmo de lhe conhecer; a maior delas foi a segunda taça, que jaz vazia, esperando você.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Coxinhas e Private Practice
É que no momento eu tenho tantas coisas para contar e nenhuma pessoa sequer pra ouvir. Então, o meu dia começou acumulado dessas pequenas coisas e enquanto eu tomava meu banho eu compreendi que ainda não havia tirado a barba esse ano; confesso que o pensamento me revelou uma surpresa positiva, pois afinal de contas, significa uma vitória. O mais estranho não foi exatamente o fato em sim, mas como ele chegou a minha cabeça. Ao sentir a água caindo sobre minha cabeça e levando consigo o mal de ontem, eu senti o peso da água acumulando na minha face; foi quando notei que havia muito cabelo. Inevitavelmente, acenei para mim mesmo, como um cavalheiro faria, e disse: pois bem, eu sou um homem vaidoso, tenho o hábito de lavar minha barba com orgulho... não há, pois, nada mais que me impeça de sustentar esse homem. Então eu lembrei que, por acaso, eu tenho me visto no espelho e notado o peso que a barba dá a minha aparência.
Mas não foi tão somente isso que se acumulou às outras coisas que jamais alguém vai ouvir de mim: sou gordinho. O problema é esse sufixo “inho” que dá uma beleza irreal as coisas. Isso incomoda, pois ontem mesmo eu estava avaliando as fotos de uma dessas pessoas que aparecem na internet; você os vê sem falhas corporais e pensa que a vida seria mais fácil caso fossemos sem falhas. Não seria, tenho certeza. A vida não mudaria por causa de um corpo bonito. Honestamente, mudaria muita coisa, mas a dúvida ainda seria a mesma, apenas vista do outro lado: será que alguém me amaria se eu não tivesse tão belo corpo como esse? Logo, logo, voltaríamos a pensar no esforço e nas milhares de coisas gostosas que não comemos para ostentar esse visual.
Ainda senti uma vontade de comer uma coxinha suculenta e de não me sentir arrependido. Foi tão somente quando eu percebi que eu já era um outro tipo de homem – aquele, independente e solitário, que acredita em coisas tolas. Caralho, como eu sou careta. Foi ontem mesmo quando eu pensei nisso; e é verdade! As pessoas, me incluo nesse grupo, são idiotas ao ponto de acreditar nas coisas que elas querem. Isso me irrita ao ponto de eu desacreditar em mim e me sentir falho, novamente, por outro ângulo. Lembro das pessoas, e de outras pessoas, e de mais algumas, sendo completos idiotas, dando ordens e exigindo coisas sem sequer a minha permissão para tal. É algo pensável, penso eu.
Por fim eu me senti incluído em um seriado. Sabe, os olhos pairam sobre aquela personagem e você acena novamente: é, essa daí é algo mais tipo eu. Por isso você começa a querer conhecê-la e imaginar-se na sua vida, sendo uma psiquiatra de cabelos encaracoladas, portadora de olhos verdes tonificados e com um homem que é tão gordo com você, apenas não usa a barba, completamente apaixonado por ela. Ai você se sente trabalhando naquele ambiente, com aquela mulher de cabelos ruivos que é uma pessoa relativamente nova na sua vida. Você pensa: nossa, que mulher! Difícil ver alguém tão mulher quanto ela. Ela vai a jogos de tênis e tem uma bolsa preta de couro aonde ela guarda seus segredos. Ela é linda e todos a olham com aquele olhar denunciando que ela é a principal. A parte mais interessante é que ela tem essa fantasia com o cara que todos diziam ser a pessoa errada. Todos sabem disso, inclusive eles, mas tem essa coisa inexplicável; ela é linda, como você jamais seria, e ele tem aquele corpo, que você queria ter, e jamais vai ter, por causa das coxinhas e dos arrependimentos. Eles vão acabar juntos; e você, provavelmente, dependendo dos humores, também terá seu par perfeito. Jamais será ruiva e feminina, ou terá o cara do corpo perfeito, que tanto você desejou.
Que venham as coxinhas, então;
Mas não foi tão somente isso que se acumulou às outras coisas que jamais alguém vai ouvir de mim: sou gordinho. O problema é esse sufixo “inho” que dá uma beleza irreal as coisas. Isso incomoda, pois ontem mesmo eu estava avaliando as fotos de uma dessas pessoas que aparecem na internet; você os vê sem falhas corporais e pensa que a vida seria mais fácil caso fossemos sem falhas. Não seria, tenho certeza. A vida não mudaria por causa de um corpo bonito. Honestamente, mudaria muita coisa, mas a dúvida ainda seria a mesma, apenas vista do outro lado: será que alguém me amaria se eu não tivesse tão belo corpo como esse? Logo, logo, voltaríamos a pensar no esforço e nas milhares de coisas gostosas que não comemos para ostentar esse visual.
Ainda senti uma vontade de comer uma coxinha suculenta e de não me sentir arrependido. Foi tão somente quando eu percebi que eu já era um outro tipo de homem – aquele, independente e solitário, que acredita em coisas tolas. Caralho, como eu sou careta. Foi ontem mesmo quando eu pensei nisso; e é verdade! As pessoas, me incluo nesse grupo, são idiotas ao ponto de acreditar nas coisas que elas querem. Isso me irrita ao ponto de eu desacreditar em mim e me sentir falho, novamente, por outro ângulo. Lembro das pessoas, e de outras pessoas, e de mais algumas, sendo completos idiotas, dando ordens e exigindo coisas sem sequer a minha permissão para tal. É algo pensável, penso eu.
Por fim eu me senti incluído em um seriado. Sabe, os olhos pairam sobre aquela personagem e você acena novamente: é, essa daí é algo mais tipo eu. Por isso você começa a querer conhecê-la e imaginar-se na sua vida, sendo uma psiquiatra de cabelos encaracoladas, portadora de olhos verdes tonificados e com um homem que é tão gordo com você, apenas não usa a barba, completamente apaixonado por ela. Ai você se sente trabalhando naquele ambiente, com aquela mulher de cabelos ruivos que é uma pessoa relativamente nova na sua vida. Você pensa: nossa, que mulher! Difícil ver alguém tão mulher quanto ela. Ela vai a jogos de tênis e tem uma bolsa preta de couro aonde ela guarda seus segredos. Ela é linda e todos a olham com aquele olhar denunciando que ela é a principal. A parte mais interessante é que ela tem essa fantasia com o cara que todos diziam ser a pessoa errada. Todos sabem disso, inclusive eles, mas tem essa coisa inexplicável; ela é linda, como você jamais seria, e ele tem aquele corpo, que você queria ter, e jamais vai ter, por causa das coxinhas e dos arrependimentos. Eles vão acabar juntos; e você, provavelmente, dependendo dos humores, também terá seu par perfeito. Jamais será ruiva e feminina, ou terá o cara do corpo perfeito, que tanto você desejou.
Que venham as coxinhas, então;
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