segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Primeiravera

Durante os grandes minutos dos seus dias teve os mais diversos lapsos de memória. Lembrou-se primeiro do belo sono que havia tido noite passada: dormira como um ser inocente, tendo folga dos demônios que o assolam durante a madrugada. Sentia-se exageradamente delicado, como uma flor rara que jamais havia pensado existir; qualquer movimento mais brusco faria aquele vento matinal o despetalar em quatro direções diferentes. O vento o levaria para todos os piores lugares do mundo e o reuniria completamente corrompido em uma lembrança de flor machucada. A partir daí recuperaria a sua beleza inicial, dessa vez transformada em outro tipo de beleza intrigante. Naquele dia ele seria aquela flor prestes a se dividir em quatro pétalas. Temeria as brisas inconstantes, mas as enfrentaria com bravura. Apalmou seus braços frágeis e sentiu-se unido em um ser que parece quebrar que merece morrer para encontrar o sentido que a vida o impunha. Depois de certo tempo, cansaria do adeus, e enfim estaria pronto para a jornada.