domingo, 3 de agosto de 2008

Chove dentro de mim

Está chovendo. Sim, está chovendo dentro de mim. Está chovendo, e é uma chuva grossa, com raios e trovões. Um chuva perigosa. Sempre está chovendo.

Lembro-me que um dia, no passado, fez um sol. Um sol brilhante, onipotente, rei de toda a luz do mundo. Então comçei a admirar o sol. Escrevia sobre o sol, falava sobre o sol, passava horas deitado, olhando o brilho, que era muito intenso, muito claro. Cansei-me de ficar deitado, olhando uma mancha preta no meu olho. Desvie meu olhar; mirei alguns graus ao oeste, e vi uma nuvem branca, que entra em perfeito contraste com o azul do céu. A mancha era cada vez mais incomoda e com o tempo, preferi não vê-lo mais. Começei então a sentir apenas a luz e o calor.

Houve um tempo em que eu estive completamente apaixonado pela nuvem, e desejei-a só pra mim. Lembro-me que ela chegou tão perto, que cobriu meu sol, aliviando meu sofrimento de ver tudo sempre tão claro. Sentia cada vez menos o calor e luz. Estive deitado, sentido dia após dia a proximidade da nuvem. Um dia a nuvem cobriu o sol por inteiro. Foi então que conheci o alívio de não ter nada te incomodando. Foi ótimo. Não tinha mais preocupações. Era uma pessoa feliz, mesmo sem o sol.

Os raios de sol ficavam cada vez menos intensos e já não havia tanta luz para a nuvem filtrar. O sol havia ido embora, ou teria sido a nuvem que matou o sol? Foi então que eu descobri o poder da Inveja, pelo caminho do amor. A nuvem nunca me amou, nunca me ajudou, nunca sequer soube que eu existia ali, embaixo de sua sombra. A nuvem, que parecia ser pura, apenas via o sol. Roubara meu antigo amor, e me deixara cego. Com o tempo, não havia mais luz, nem calor, nem mais nada.

Foi então que começei a enxergar a nuvem. O tempo que houvera passado embaixo de sua sombra reconfortante, foi necessário para recuperar a visão que perdi. Com algum esforço, resolvi abrir os olhos. Vi então uma nuvem safada e escura (existem nuvens safadas sim) cobrindo totalmente o sol. Nuvens derradeiras e possessivas, que nunca tiveram o seu brilho próprio, sempre ofuscadas pelo belo e brilhante Rei Sol. Sangue-sugas. Roubaram todo o brilho do sol. O sol, sem brilho, seria sol?

Passei a odiar as nuvens. Começei a maldizê-las. Tornei-me inimigo mortal das nuvens. Começei a pensar em um modo de devolver toda a vitalidade do meu sol. irritei-as. Fiz elas ficarem possessas. Assim então, começoua chover. Chove há tempos. Não consigo lembrar-me das nuvens, pois os pingos grossos caem como martelos em minha cabeça. Não consigo me lembrar da luz do sol. Começo a achar então, que devo adorar a chuva.

Houve um tempo em que adorava chuvas...

5 comentários:

Heyner Mercado disse...

Se chove ou faz sol dentro de nós, é tudo uma questão de saber por onde estamos andando. Dá para ser feliz com a chuva interna? E por que não? Olhar para dentro de si mesmo, sem tanta auto-crítica e com um pouco mais de vontade de se satisfazer já pode ser um ótimo começo...
A vida é uma coisa tão simples, com o tempo compreendi que quem a complica somos nós mesmos, quando aumentamos problemas, dores, gostos & desgostos, sabores & e dissabores. Da mesma forma que complicamos, poderíamos simplificar, ver a elegante simplicidade da vida, e nada mais temer, nem o passado, nem o presente, quanto menos o futuro.

Heyner Mercado disse...

Quem sabe assim, o sol pode ressurgir, e brilhar com tal resplandecência que antes jamais poderia ter sido vista.

Icaro Rabelo disse...

A questão não é estar triste.
A questão é que a pessoa já se acostuma com a chuva.
A chuva doi, por mais que seja linda.
A chuva tras medo.
A Chuva te engole.
:D

dibylima disse...

Deixando de lado a questão emocional, é um ótimo texto. Adorei!

Heyner Mercado disse...

Deixo aqui, em forma de comentário, uma justificativa por não ter estado online durante o dia: estava eu na casa de minha amiga, que me convidou para passar o dia lá, antes da aula. Acabei não entrando na internet, por causa disso.
Mas agora digo a que venho: Gosto da forma que me enxergas através das minhas palavras tão perdidas no meu aleatório blog. Me surpreende a tua maturidade emocional, parecendo ter vivido mais tempo que eu, como se de alguma forma, estivesse a me indicar os caminhos a seguir, nas entrelinhas. E entrelinhas são melhores do que palavras certeiras, pois atingem com maior eficácia ao seu alvo.
Lhe agradeço, por essa visão otimista que tens, disfarçada de pessimismo conformista, quando na verdade há muito além de uma interpretação rasa das coisas. Agradeço por relembrar um pouco do que eu fui, e talvez jamais tenha deixado de ser, e talvez eu apenas tenha encontrado uma máscara compatível com a minha face, para me defender das coisas da vida, para me defender do meu reflexo, quizas de mim mesmo.
Uso as palavras como armas brancas: Sempre com um alvo em mente, mas sem causar impacto imediato. E lhe agradeço por seres uma das poucas pessoas que entendem as pretensões delas, quando eu minto dirigi-las a alguém, mas quase sempre, dirijo a mim mesmo, ao meu lado mais consciente, e o outro lado, que pouco se manifesta, mas muito habita, dentro desse complexo universo que chamo de meu mundo.
Sim, lhe adoro também, pela simplicidade elegante que consegues enxergar as coisas da vida, em vez de complicá-las e fingir descomplicá-las, como costumo eu fazer. ^^