sábado, 6 de setembro de 2008

Homens

Está tão cansado dele mesmo, que surpreendeu a todos, inclusive a si, por ainda não ter se matado. Era um garoto jovem de coração aberto, louco para encontrar alguma aventura. Mudou várias vezes, por várias pessoas e todos diziam que ele era perfeito. Perfeito demais, talvez fosse esse seu defeito. Não era digno de pena; apenas de um segundo olhar atencioso. Esse olhar transformaria qualquer dor que já havia sentido em algum sentimento bom. Sentimentos bons eram cultivados por ele, no jardim que tinha dentro de seu peito. Era um ótimo jardineiro, mas por algum motivo inexplicável, nenhuma flor que plantava vivia por muito tempo. Martirizava-se então por não ser o mais habilidoso de todos.
Era um pobre coitado. Mais um idiota nesse mundo que se apaixona facilmente e chora quando vê que a pessoa que ama não dá a mínima para ele. Os olhares que se fixam neles são apenas os olhares de amizade, não os de amor. Os próprios amigos costumam dizer que ele é uma das pessoas mais interessante, inteligente e bonita que tiveram o prazer de conhecer. Tudo isso era mentira, ele sabia.
E nossa história só tem valor quando a gente observa o garoto preso em uma jaula. Todos estão olhando o sofrimento daquele bicho e por mais doloroso que possa parecer, ele nunca estará livre da jaula. Será um eterno apaixonado, seja lá o que isso quer dizer. Infere-se que um dia ele vai se matar, pois nesse momento, odeia tudo e ama apenas uma pessoa. E todo esse amor, o consumirá, mais uma vez. E toda a dor que bate ardente no peito, o consumirá, mais uma vez. E mais um texto que escrevo, me consumirá, mais uma vez.

2 comentários:

Bell Bastos disse...

Nossa, que história triste.

Diga-me que foi inventada.

Humberto Mercado disse...

Eu te entendo mais do que deveria, Icaro. Já passei por tudo isso e sei o quão sofrido é tu ouvir das pessoas: "ah, tu é bonito, inteligente, tudo de bom, mas... não rola", e ficar a olhar a pessoa que lhe diz isso, perplexo, com a contradição exposta como uma fratura exposta, a sangrar pela boca de quem disse tais paradoxais palavras. Depois do espanto, a dor nos invade. Depois vem uma sensação de infortúnio, e nos perguntamos: "por que comigo?".
Às vezes a vida se torna uma bosta por causa disso. Sofremos em silêncio e se ousamos desabafar com as pessoas, essas mesmas podem nos julgar de chorões, reclamões, por que na visão fútil e individualista deles, apenas reclamamos de barriga cheia, mas não é verdade. Nos falta um pedaço, nos falta uma razão enquanto o amor não chega. Se é idealismo viver de amor, eu não sei. Mas eu prefiro morrer de amor e saber que valeu a pena viver, nem que fosse exclusivamente dedicada a vida ao ato de amar, mesmo sem receber o amor desejado em retorno. Me valeria a pena morrer de amor, me libertaria de tudo de errado que eu já possa ter feito na(s) minha(s) vida(s), penso eu. Além de tudo, seria uma forma poética. Mas não quero falar de fim, quero falar de começos. Não quero falar de morte (ainda mais pelo fato da mesma não passar de uma ilusão...), quero falar de vida.
E eu, Icaro, como amigo, te amo, mesmo que inconsequentemente. Provavelmente é melhor não medir as consequências quando se é livre. Te amo pela tua sensibilidade, e te digo do fundo do que a minha franqueza é capaz de dizer: Se eu morasse aí ou vice-versa e meu coração estivesse, de fato, livre, serias o meu eleito. Talvez eu nunca tenha me visto diante de alguém tão parecido comigo, bem sei.
Levemos adiante a vida, mesmo que às vezes consternados. Mas por favor, Icaro. Jamais desista de sonhar nem de ser feliz. Tens amigos que realmente lhe amam e que querem o teu bem. Portanto, apenas viva tudo o que quiseres viver, mas não se aparte de ti mesmo, muita gente gosta mais de viver por que tu existes.

(o meu 'eu prolixo' pediu para eu te dizer tudo isso) xD