segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Monstros Inocentes
Quando vi Aquiles pela primeira vez, ele estava parado no mundo. Jamais imaginei que ele, que era tão bonito, negaria a própria felicidade por motivos tão insuficientes. Desde esse dia corriqueiro, então, os sorrisos desapareceram por completo da sua face rubra: havia enfim se convertido em monstro.O monstro do qual eu falo são os terrestres. Não são abomináveis ou terríveis, muito menos são feios ou assustadores; ao contrário, são inclusive mais charmosos que os próprios seres humanos. Talvez seja esse o motivo de terem o perfeito contraste de beleza e perigo. De tão belos, são facilmente o motivo de infelicidade geral, diferem das pessoas apenas por negarem a elas os sorrisos e no seu lugar impor as lágrimas. São também carinhos e dóceis, por isso monstros.Voltemos a Aquiles, parado em seu mundo, esperando a condução que o levaria à sua tortura diária. Se hoje se converteu em monstro fora por causa dos acontecimentos do dia de ontem. Algo tão patético, ao mesmo tempo tão profundo e banal, o fizera virar essa aberração. Sem forças era obrigado a viver.Foi quando a vida o fez encontrar a borboleta; foi amor a primeira vista. A borboleta cortava o céu com suas asinhas tão frágeis, com sua simpatia gratuita e com o gracejo de sua sabedoria. A visão pálida de monstro inocente viu aquelas asas pairarem sobre uma coluna azul, perto de seu ombro direito. Toda aquela cena incomodava o monstro, que sem saber já não era mais monstro.Durante o tempo em que a borboleta dançou para aquele ser difuso, durante esse inefável momento, ele fora rei do mundo, sendo ao mesmo tempo servo e escravo daquele ser tão pequenino, que já calava o seu grito mais profundo. Pensando apenas no passageiro amor que já sentia, pouco a pouco, a sua mascara humana também caia, e para a sua total surpresa já não era mais monstro ou gente ou qualquer outra coisa: era apenas ele.A borboleta se foi e essa história não tem um final.
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