terça-feira, 7 de julho de 2009

Cadarços

O sapato não cabia, mas vestia bem o seu pé, e por isso talvez ele andasse mancando. Quando sozinho, retirava o sapato, e por alguns minutos ele fazia caretas de dor, revelando apenas quando ninguem podia ver, como realmente era a cara da dor. Qualquer sinal de um conhecido, minimo que fosse, ele rapidamente os recolocava, dissimulando as caretas; eram sorrisos de mentira.
Um dia, alguem notou a dor por trás de tudo. Ele negou enquanto pode, mas no final, desistiu de mentir, e assumiu os pés calejados. A partir desse momento, se tornara livre e extremamente vuneravel a qualquer coisa que o machucasse.
Todos andavam de sapatos apertados, e no outro dia, quando ele apareceu com sandalias, todos olharam seus calos, com as mais diversas manifestações de horror. Ele mesmo, olhou para os próprios calos, e novamente fez as mesmas caretas de dor, dessa vez sinceras. Andou de cabeça baixa, por algum tempo.
Foi quando todos se acostumaram um pé com calos tão horriveis.
Pouco a pouco os calos sumiram, e uma vez que já não havia dor, não havia motivo algum para existirem caretas. Já que não havia mais calos, não havia motivo para abaixar a cabeça novamente. Viraram pés normais e livres.
Foi quando todos deixaram de dar nós do sapatos.
E logo, todos cairam, um por um, pisando um nos cadarços dos outros. Naturalmente, eles hoje andam descalços, e seus calos são maiores. Não adiantou manter os pés sobre tanta beleza. Eles sempre foram feios, e assim permaneceram escondidos dentro dos sapatos.
Pernas foram quebradas, e no gesso, várias assinaturas enfeitavam novamente pernas inteiras. Por algum tempo todas as assinaturas cobriam o branco estridente que denunciava uma queda. Os pés continuaram escondidos, e ninguem nunca pode afirmar que os calos continuaram por muito tempo, uma vez que o gesso cobria com desenhos uma falha.
Chegou o dia de algumas pessoas tirarem o gesso. O gesso não era necessário mais; então, algumas pessoas continuaram engessadas, fazendo-se de frageis. Foi quando elas mesmas tropeçaram na própria perna, caindo uma sobre as outras. Cada dia mais machucadas, elas mantinham todos os sinais de aparente fragilidade.
Então, quando todos estavam demasiadamente frageis, um rapaz movia-se, livremente, de pés descalços...

Um comentário:

John John disse...

POR isso é bom sempre ser vanguarda!