Ele riu, assim, do nada. Quase poderia dizer que ele estava rindo de felicidade; mas ninguém se atrevia. Um sorriso, nada mais, apenas isso. No entanto era tão difícil entender tudo aquilo. Nem mesmo ele deveria entender, afinal de contas, ele se isolava sempre. Nada o impedia de sorrir; mas parecia errado sorrir quando todos tinham motivos para não fazê-los. Talvez por isso tenha se distanciado daqueles rostos sorridente. Era impossível manter-se feliz quando não se sentia a vontade para fazê-lo.
Quando tudo começou, ninguém sabe. Aos poucos ele foi se isolando, ao mesmo tempo em que os outros faziam o mesmo. Não havia razão, ele apenas não se encaixava. Contudo, ele sentia uma leve satisfação em tudo isso. Qualquer um pensaria que ele não era aceito pelo grupo; ele gostava de pensar, ainda que pensassem que ele que estava errado, que o grupo inteiro que não era aceito em seu pequenino universo. Nada disso era desagradável, embora devesse ser; afinal vivemos em comunidade. Aonde ele pertence, então?
Quando tudo começou, ninguém sabe. Aos poucos ele foi descobrindo todo o prazer em seus pequenos segredos, com certo deleite. Nunca se atrevia a contar nada, e por isso o segredo valia tanto a pena. Ele era como um trem bala, passando por pessoas rapidamente, apenas vendo o borrão dos seus rostos e eventualmente olhando para trás com aquela nítida sensação de estar perdendo algo importante. Mas enfim, já passou mesmo.
Era o intervalo entre as aulas de Biologia e Língua Portuguesa. Exatos 20 minutos para fazer um lanche rápido enquanto se conversa com os amigos do colégio. Por certa razão sobre a qual nunca havia prestado atenção, sempre nos intervalos dessas duas aulas, ele se sentia mais alegre. Ao longo do ano, nem uma simples palavra foi trocada durante o intervalo dessas duas aulas. Nem mesmo um lanche rápido foi feito; ele apenas olhava indiferente para tantas pessoas alegres. E indiferente se mantinha; até demais.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
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