domingo, 27 de dezembro de 2009

Proibido a entrada

Eles subiram as escadas, felizes, ansiosos, temendo serem pegos. Quatro jovens que haviam roubado a chave do cadeado da última porta do edifício em que moravam. Suas vidas eram as mais tristes, não havia saída, exceto aquela última porta que levava ao lugar mais lindo de todo o mundo. Era o começo da noite e havia manchas laranja naquele céu. Pouco a pouco iam sumindo, engolidas pela noite, que chegava.

Enfim, um final, uma saída: uma porta vermelha. "Proibida a entrada". Tão estranho como poderia ser, eles destrancaram aquela porta nunca aberta anteriormente.

Aberta a porta, viram as grades do portão de ferro. Olharam-se naquele quase-escuro que os invadia, banhando suas caras com o mais puro breu; reconhecendo entre si os sorrisos criminosos que escapavam. Era ali, onde era proibido, onde era alto o suficiente para uma tragédia, ou onde era perfeito para ter os cinco minutos de extrema solidão. O momento perfeito para uma única foto, recordação de um momento anormal de felicidade.

O terraço do prédio há tanto desejado, há tanto comentado naquelas rodas de conversa. Era um prédio infeliz, verdade; mas tinha seu charme. Os amigos planejavam aquele momento há tanto. Agora estavam lá, felizes, jurando segredo perpétuo. O lugar que em 50 anos ainda seria tão belo como hoje.

Sentaram-se em circulo e compartilharam entre si coisas que nunca haviam dito:

- Quando meu pai morreu, eu senti raiva. Quis morrer junto, então me cortei na perna, onde ninguém nunca poderia ver, aqui, na parte de traz do joelho. Esse corte seria eterno, marca da minha revolta.

- Primeiro eu achei que fosse proibido, mas um dia eu descobri que não. Vi meu pai se beijando com um homem estranho, amigo do escritório. Se meu pai faz, eu também posso, não?

- Eu não sou feliz, eu choro todos os dias antes de dormir. Certa noite, eu tentei me matar, e quase consegui. Sinceramente, o mundo não me atrai.

- Eu vomito para ser magro. Odeio ser gordo. Só serei feliz quando emagrecer 28 kg, e até lá, eu espero ter vocês por perto para me socorrer.

Saíram daquele lugar proibido, trancando novamente seus segredos por detrás daquela porta vermelha.

Um comentário:

Ela disse...

conto profundo, cheio de espaços que trancamos em nós mesmos. Verdades que não ousamos contar nem pro nosso espelho.

Gostei.