Semana após semana ela travabalha, restando somente o domingo para rara folga. Uma rotina dura para uma mulher que costumava ser sensível quando mais jovem. Onde havia ela mesma dentro dela? Perguntava a si mesma, procurando uma resposta na imensidão dos seus dias infinitos. Assim foi sobrevivendo com seu extremo raro muito e seu insatisfeito sempre pouco.
Era metade de um sabado, não um inteiro, porque ainda restava o escuro da sexta-feira, mesclando nas nuvens uma aqualera inenarrável, e indescritivelmente linda. A sexta-feira se trsnformava em sábado mais uma vez, e ela jazia imovel na janela, olhando tudo aquilo, procurando no céu algo importante que deveria estar dentro dela.
O sabado se fez por completo. Vê-lo se transformar não foi mais que perda de tempo; a única coisa que achou foi o atraso que não poderia acontecer naquela manhã. Olhar o milagre do dia não era nada mais que o choque de suas lagrimas incoerentes com o frio torturante da manhã que se formou diante de seus olhos.
Cansada, foi ao banho quente. Ligou o chuveiro e fez chover gotas de pecado que a banhavam com a mentira que ela vivia. Aquela não era ela, não poderia ser; impossivel. Como se não aguentasse mais, gritou e se ajoelhou no chão molhado. Estava cansada, mesmo com a noite calma de sono, estava ainda cansada. Ela apenas não sonhava mais como fazia antigamente. Um a um, seus sonhos secaram, e as gotas d’água so lembravam isso.
Então, findo o banho foi ao trabalho. E findo o trabalho, retornou a sua vida. O sábado a empurrava rapidamente para o fim. Curiosamente o dia passou mais rápido, e então, estava ela novamente olhando o fim da tarde e o começo da noite com a melancolia esquecida pela manhã. Pouco a pouco ela ia reparando que aquilo a fazia mais feliz. E ser mais feliz é toda a felicidade que ela poderia ter, era seu tesouro que não cabia dentro dela e teria que dividir com alguém.
O gato dormia solenemente e logo ela o descartou. Não tendo mais ninguém disponível, foi a varanda de sua casa olhar o pôr-do-sol. Sentou-se na cadeira e lá ficou, contando a ela mesma o quanto feliz ela estava, como se isso fosse um grande crime, o que lhe acabava de render uma cara de culpa e prazer. Ela era, enfim, egoista. Toda a felicidade que sentia, pouco a pouco ia transferindo, como se contasse o maior segredo do mundo, para ela mesma. Uma mulher que jazia morta dentro do peito.
Então, voltou a cozinha e espantou o gato do seu sono. Ele a olhou ferozmente, com raiva, jurando vingança. “Gatos são assim, vingativos” - pensou. Pegou uma cerveja na geladeira, coisa que não fazia a muito tempo e voltou para a imensidão do fim da tarde. Sua única pretensão era ser uma bebada, nada mais que isso. Uma vadia que atrai olhares e atenção para ela mesma, enquanto os outros lhe cedem poucos segundos de repreensão.
Estava fora de si, e os vizinhos já cediam os segundos, apontando a risada infernal da mulher. Ela ria alto, porque quase nunca fazia isso. Então, ela ria mais alto, desafiando a si mesma a ser mais feliz do que se sentia. Então, tudo virou um circo, e qualquer um que passava no fim daquela tarde via a mulher na imensidão da tarde que se acabava. Agora, além de bebada ela era louca, pois gritava a quem quisesse ouvir os absrudos cometidos por ela, contra ela.
Por fim, escureceu. Cara mista de vergonha e orgulho. Deitou-se na cama, já sem felicidade alguma. A festa tinha seu fim. Ainda sorrindo sem motivo, orgulhava-se de não ter fumado cigarro algum.
terça-feira, 5 de maio de 2009
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2 comentários:
Sou seu maior fã, cearense paulista!
John John
POucos recebem a alcunha de amigo, Icaro...
Ame-a ou deixe-a! rs
JOhn JOhn
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