segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Primeiravera
Durante os grandes minutos dos seus dias teve os mais diversos lapsos de memória. Lembrou-se primeiro do belo sono que havia tido noite passada: dormira como um ser inocente, tendo folga dos demônios que o assolam durante a madrugada. Sentia-se exageradamente delicado, como uma flor rara que jamais havia pensado existir; qualquer movimento mais brusco faria aquele vento matinal o despetalar em quatro direções diferentes. O vento o levaria para todos os piores lugares do mundo e o reuniria completamente corrompido em uma lembrança de flor machucada. A partir daí recuperaria a sua beleza inicial, dessa vez transformada em outro tipo de beleza intrigante. Naquele dia ele seria aquela flor prestes a se dividir em quatro pétalas. Temeria as brisas inconstantes, mas as enfrentaria com bravura. Apalmou seus braços frágeis e sentiu-se unido em um ser que parece quebrar que merece morrer para encontrar o sentido que a vida o impunha. Depois de certo tempo, cansaria do adeus, e enfim estaria pronto para a jornada.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
A jaqueta
Eu seguro os casacos, logo, talvez ele deva me conhecer apenas como “aquela garota simpática da recepção”. Na verdade eu sou a garota que secretamente cheira a sua roupa procurando descobrir mais detalhes sobre ele. Nunca senti o seu perfume, apenas o seu cheio. Antes de tirar aquela aquela jaqueta preta conseguia tocá-lo. Experimentava um pecado voluptuoso, daqueles em que os olhos se fecham, os ombros contraem e o corpo se move levemente para frente querendo se entregar em um abraço impossivel fora daquele devaneio. As mãos agiam rápidas, era apenas um toque inocente nos seus ombros seguido de um aceno cínico de quem deseja nada exceto ele. A cara sustentava um sorriso de culpa e prazer.
Logo levaria sua jaqueta a uma sala reservada e a vestiria. Tentava se imaginar dentro daquele corpo, dentro dele e através da jaqueta experimentava por alguns segundos o sabor de ser a pessoa pela qual se apaixonava. O cheiro incorporava-se dentro dela, fazendo-a agir de maneira inapropriada pra uma recepcionista. Valia a pena correr o risco, afinal, o desejo a excitava. Jamais teria coragem de sequer tentar alguma aproximação. Era feia e sem atrativos, porém, bem apanhada; uma daquelas que se conformaram e passam despercebidas.
A meia luz do depósito no qual se encontrava a ajudava a delirar. Estava escuro, e ela podia escutar vozes do lado de fora. Trancou a porta em um movimento bem rápido. Encostou-se de cosrtas para porta e deslisou. Tirou a calcinha por debaixo do vestido e chutou o seu salto alto para um canto qualquer. Se pôs imediatamente sentada no chão com suas pernas contraidas, como se protegessem uma ordem maior vinda de outro lugar. Tentava não ceder e, de olhos fechados, começou a acariciar o couro da jaqueta, sentindo toda a delicadeza que já havia ido embora.
Por algum motivo, notou que salivava bastante. O coração parecia não bater mais. Definitivamente, não se sentia ameaçada. Conseguia enxergar as prateleiras do lugar em que estava. Compreendeu que se tratava de um depósito. As informações se processavam muito lentamente, como se alguém irresistivel lhe dissesse baixinho no ouvido o que ela deveria saber. Virou sua cabeça para sua esquerda. Sem entender, seus olhos fecharam e imediatamente suas mãos retiraram os óculos vermelhos e soltaram o coque, fazendo uma cachoeira negra de fios ondulados dançarem sobre os seus ombros.
Sentia-se confortável naquela jaqueta. Pôde sentir cheiros e associá-los àquele que a governava. Sentia o choque do cheiro encontrar o seu corpo quente. Acima de todos os cheiros, sentia um cheiro de suor masculino que não lhe era podre. O cheiro natural do homem que lhje tinha sobre um poder, quase um feitiço. Seu corpo lutava contra seus desejos. Nesse momento, ela voltava a pensar sobre o que fazia, mas antes que fosse dada a ela a oportunidade de se sentir riducula e voltar a ser a patética recepcionista que era, novamente, suas mãos agiam, dessa vez puxando o vestido preto um pouco mais pra cima.
Sentiu uma das pernas tremer. Só lhe restava repousá-la e se render enquanto ainda havia uma perna segura apoiando sua loucura. As mãos trabalhavam sozinha e ainda que ela determinasse a intesidade ou a rapidez do movimento que faziam em si, ela jamais teria controle. Sua mente se rendia lentamente. Era como se ela mesma estivesse se desconectando da sua mente e entrando em outro corpo, um que lhe guiava do modo que ela mais precisava. Suas mãos já não lhe pertenciam. Eram outras mãos, mãos masculinas, que com rigidez a fazia desmaiar sobre si mesmo ao mesmo tempo que escorregava pela porta.
Começou a gemer baixo e de olhos fechados. Aquela mão a acariciava de uma maneira tão intima que ela jamais pôde entender como tanto conhecimento sobre ela foi transmitido. Ela desenhava aquele homem ao seu lado de modo que se ela virasse a cabeça um pouco mais para a sua esquerda ela conseguiria sentir um fino vio de vento soprado por ele. A certeza de que ele a possuía a excitava mais. Entre os gemidos e as mordidas de lábios, ela imaginava as várias facetas daquele homem de jaqueta preta que despedaçava pobres rosas como ela.
O calor aumentava conforme ele acelerava o movimento da sua mão. Qualquer ordem que ele a desse seria cumprida. A batalha entre ela e a realidade já havia sido perdida a muito tempo, então, ela aproveitava aquele homem surreal a atacando das maneiras mais diferentes, pouco a pouco realizando as suas fantasias e despetalando aquela pobre moça que se entregava a cada puxão de pétalas. Era a sua nirvana. Quando já não se importava mais com o que fosse feito das suas suaves pétalas, rapidamente gemeu bem alto, acordando de tudo.
Ajeitou-se parcialmente ainda de olhos fechados. Pôs seus óculos imediatamente como se aquilo fosse um indicio de que havia recuperado a lucidez. Afirmava-se vestindo cada peça de roupa, e assim, pouco a pouco ela recompunha. A mente se recuperava agressivamente da total ausência. Logo se lembraria das horas, do restaurante, das responsabilidade e, enfim, sentiria vergonha pelos seus atos.
Levantou-se apoiando uma das mãos na parede do cubiculo escuro. Procurou o seu salto exatamente no ponto em que pensava tê-lo jogado e os calçou com certa dificultada. Antes de abrir a porta tentou ajeitar seu cabelo e manter a aparência profissional da qual precisaria para voltar ao trabalho. Esperou alguns segundos para destrancar a porta e saiu orgulhosa daquilo que havia feito, pronta para encarar o final da noite.
Chegou ao seu posto e atendeu alguns clientes. Não demorou muito e ele voltava sorrindo - não mais que ela.
Logo levaria sua jaqueta a uma sala reservada e a vestiria. Tentava se imaginar dentro daquele corpo, dentro dele e através da jaqueta experimentava por alguns segundos o sabor de ser a pessoa pela qual se apaixonava. O cheiro incorporava-se dentro dela, fazendo-a agir de maneira inapropriada pra uma recepcionista. Valia a pena correr o risco, afinal, o desejo a excitava. Jamais teria coragem de sequer tentar alguma aproximação. Era feia e sem atrativos, porém, bem apanhada; uma daquelas que se conformaram e passam despercebidas.
A meia luz do depósito no qual se encontrava a ajudava a delirar. Estava escuro, e ela podia escutar vozes do lado de fora. Trancou a porta em um movimento bem rápido. Encostou-se de cosrtas para porta e deslisou. Tirou a calcinha por debaixo do vestido e chutou o seu salto alto para um canto qualquer. Se pôs imediatamente sentada no chão com suas pernas contraidas, como se protegessem uma ordem maior vinda de outro lugar. Tentava não ceder e, de olhos fechados, começou a acariciar o couro da jaqueta, sentindo toda a delicadeza que já havia ido embora.
Por algum motivo, notou que salivava bastante. O coração parecia não bater mais. Definitivamente, não se sentia ameaçada. Conseguia enxergar as prateleiras do lugar em que estava. Compreendeu que se tratava de um depósito. As informações se processavam muito lentamente, como se alguém irresistivel lhe dissesse baixinho no ouvido o que ela deveria saber. Virou sua cabeça para sua esquerda. Sem entender, seus olhos fecharam e imediatamente suas mãos retiraram os óculos vermelhos e soltaram o coque, fazendo uma cachoeira negra de fios ondulados dançarem sobre os seus ombros.
Sentia-se confortável naquela jaqueta. Pôde sentir cheiros e associá-los àquele que a governava. Sentia o choque do cheiro encontrar o seu corpo quente. Acima de todos os cheiros, sentia um cheiro de suor masculino que não lhe era podre. O cheiro natural do homem que lhje tinha sobre um poder, quase um feitiço. Seu corpo lutava contra seus desejos. Nesse momento, ela voltava a pensar sobre o que fazia, mas antes que fosse dada a ela a oportunidade de se sentir riducula e voltar a ser a patética recepcionista que era, novamente, suas mãos agiam, dessa vez puxando o vestido preto um pouco mais pra cima.
Sentiu uma das pernas tremer. Só lhe restava repousá-la e se render enquanto ainda havia uma perna segura apoiando sua loucura. As mãos trabalhavam sozinha e ainda que ela determinasse a intesidade ou a rapidez do movimento que faziam em si, ela jamais teria controle. Sua mente se rendia lentamente. Era como se ela mesma estivesse se desconectando da sua mente e entrando em outro corpo, um que lhe guiava do modo que ela mais precisava. Suas mãos já não lhe pertenciam. Eram outras mãos, mãos masculinas, que com rigidez a fazia desmaiar sobre si mesmo ao mesmo tempo que escorregava pela porta.
Começou a gemer baixo e de olhos fechados. Aquela mão a acariciava de uma maneira tão intima que ela jamais pôde entender como tanto conhecimento sobre ela foi transmitido. Ela desenhava aquele homem ao seu lado de modo que se ela virasse a cabeça um pouco mais para a sua esquerda ela conseguiria sentir um fino vio de vento soprado por ele. A certeza de que ele a possuía a excitava mais. Entre os gemidos e as mordidas de lábios, ela imaginava as várias facetas daquele homem de jaqueta preta que despedaçava pobres rosas como ela.
O calor aumentava conforme ele acelerava o movimento da sua mão. Qualquer ordem que ele a desse seria cumprida. A batalha entre ela e a realidade já havia sido perdida a muito tempo, então, ela aproveitava aquele homem surreal a atacando das maneiras mais diferentes, pouco a pouco realizando as suas fantasias e despetalando aquela pobre moça que se entregava a cada puxão de pétalas. Era a sua nirvana. Quando já não se importava mais com o que fosse feito das suas suaves pétalas, rapidamente gemeu bem alto, acordando de tudo.
Ajeitou-se parcialmente ainda de olhos fechados. Pôs seus óculos imediatamente como se aquilo fosse um indicio de que havia recuperado a lucidez. Afirmava-se vestindo cada peça de roupa, e assim, pouco a pouco ela recompunha. A mente se recuperava agressivamente da total ausência. Logo se lembraria das horas, do restaurante, das responsabilidade e, enfim, sentiria vergonha pelos seus atos.
Levantou-se apoiando uma das mãos na parede do cubiculo escuro. Procurou o seu salto exatamente no ponto em que pensava tê-lo jogado e os calçou com certa dificultada. Antes de abrir a porta tentou ajeitar seu cabelo e manter a aparência profissional da qual precisaria para voltar ao trabalho. Esperou alguns segundos para destrancar a porta e saiu orgulhosa daquilo que havia feito, pronta para encarar o final da noite.
Chegou ao seu posto e atendeu alguns clientes. Não demorou muito e ele voltava sorrindo - não mais que ela.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Sim, porque sim é assim.
Ele morria com a mesma velocidade necessária para fazer um relógio andar mais rápido. Suavizava a morte, era parte da vida, pensava. Não, não mesmo. Morrer é parte outra. Mas ele morria sem saber, morria e morria mesmo. Morria pelos dias que passaram e morria pelos dias que nem chegaram ainda. Como se chama o finado? Rubens. Quem é Rubens? Não lembro, faz tempo.
Andava com expressão cansada. Cansada mesmo, de tudo o que tinha vivido.Aquilo precisava morrer, mas não ele. Ele não morria, ele apenas vivia morrendo suas coisas. Seus pais, ainda andando, diziam que era coisa dele, que era normal e que era bom deixar. Deixar? Sim, deixar, era melhor deixar. Então ele deixava, sem saber se fazia bem ou mal. Mas não, ele não podia, ainda andava, cansava deixar.
Chegava aos lugares, pensando em como poder pensar sem ofender. Ainda andava, mas pensava mais do que andava. Como resolver o que sempre foi deixado? Certamente não deixando. Deixar não pode, pois nunca resolveu. O que pode é não pensar, e sim resolver. E fazer o que? Ainda andava, pensava e resolvia, sem nenhuma conclusão.
Uma mão o encosta:
- Quem?
- Oi, as horas, por favor?
- Não uso relógios, porque a pergunta?
- Achei que era a hora de mudar, não seria a hora de mudar?
- Não sei se era ou se é. Eu não sei se a hora chega ou se passa, mas eu sei que ela existe. Já mudou algo hoje?
- Pra onde você anda?
- Minha casa. Responda, pra onde a gente muda?
- Não sei, achei que você soubesse.
Agora ele pensava dois pontos reticência. Eu sei, eu deixei, eu mudei, mas não mudei tudo, eu mudei o que eu não quis mudar. Eu devia mudar o que eu não consigo. Mas isso é traição, isso é deixar e deixar é morrer. Acomodar é viver com morte um dia inteiro e dormir ao seu lado. Dormir é morrer ou acordar?
Anda, anda e anda. As pessoas, quem, as pessoas? Sim, elas andam, mas não pensam. Penso que não pensam porque nenhuma delas parece morrer, só parecem andar. Pra onde? Pra casa, eu acho. Mas não sei, acho que não sei. Quem sabe já morreu. Pensou demais, é crime, e você morre. Sim, você morre. Quem pensa morre. E quem não pensa? Não sei, acho que não sei.
Parou, chegou. Abriu sua porta. Colocou os livros na mesa. Tirou os sapatos. Sentou no sofá. Fechou os olhos. Adormeceu, mas não morreu – na verdade, adormeceu e acordou. Voltou a andar. Chegou aonde tinha que estar. Cumprimentou, beijou, abraçou, trabalhou e se irritou. Voltou a andar, voltou a chegar, voltou a dormir.
Passou o tempo, pensou no tempo, morreu no tempo.
Mas sempre acorda, sempre volta. Sempre há uma nova chance de morrer, porque morrer é sublime ao ponto de ninguém saber o que é morrer. Sabe-se que morre porque ninguém jamais volta a viver. Voltar a viver é pecado, e isso não pode ficar deixando. Tem mesmo que ajeitar. Morreu, ta morto. Não se volta pra não confundir ninguém. Fantasma de jeito nenhum, é tudo morto que quer contar o segredo da morte pra quem nem pensa em morrer. Não se pensa em morrer, se pensa enquanto anda, se pensa enquanto se pensa, se pensa enquanto se vive. Morre-se quando para de pensar. Isso é morte.
Começou a escrever linhas, a pintar tintas e gravar vozes em pequenas fitas cassetes. Separou uma bermuda, uma blusa, uma escova de dentes, um pedaço do cabelo e os bens que mais amava e os guardou em um baú, no fundo do mar. Nada molhava e não se sabe porque. Deixaria esse pensamento como herança para outra pessoa que consiga pensar no por que das coisas.Pensava por hora nele, no porque dele ter feito um baú. Não era pirata, baú quem tem é eles que sabiam esconder as coisas. Eu não. Eu joguei ai no mar, porque de qualquer forma, eu iria morrer se fosse achar aquelas coisas que não molhavam nunca.
Guardou a lembrança, pelo menos como lembrança de um dia ter feito algo insano. Os anos passaram se e ele voltou a voltar a fazer as coisas. Pensava em coisas mais diferentes, não sobre andar, não sobre morrer. Sobre as centopéias, sobre as luzes e sobre a eletricidade. Pesar em eletricidade era diferente, porque nunca era possível saber aonde ela se escondia. É rápida, eu sei, mas ela nem sempre é um choque. Ela é algo humano, do mal, que por hora não faz mal a ninguém. Mas ela é má, porque dói. Coisas que doem assim não podem ser boas. Pensou na televisão levando choques pra funcionar. Ninguém merece levar choques pra funcionar. Pode-se levar um choque apenas uma vez para saber que eletricidade é ruim.
Às escuras, na medida do possível, vivia. Vivia com medo, mas vivia. Escondia-se na casa escura, fugindo da eletricidade. Era sensível, bem se lembrava. Os pais falavam deixa, é assim esmo, fazer o que? Não se sabe, mas essa é a graça. Fazer o que? Fazer eletricidade é ruim, nem se pode pensar demais porque se morre. Se morre? Não sei; morre, eu sei - mas não sei “se morre”. Não pode-se pensar em pensar em morrer, porque, não-não-não, deus me livre. Não se culpa deus pela morte de ninguém. Se culpa deus por tudo, mas não se culpa em voz alta, porque deus castiga.
Dizem tanto de deus. Mas como se sabe de deus? Não se sabe nada de deus, porque Deus é escrito com letra maiúscula, tem de respeitar. Não tem que se repeitar, tem de se respeitar, porque um usar que demais é feio e dois respeitar é uma obrigação. Que? Sim, sem “que,” obrigação sim: deus é quem sabe morrer.
Andava com expressão cansada. Cansada mesmo, de tudo o que tinha vivido.Aquilo precisava morrer, mas não ele. Ele não morria, ele apenas vivia morrendo suas coisas. Seus pais, ainda andando, diziam que era coisa dele, que era normal e que era bom deixar. Deixar? Sim, deixar, era melhor deixar. Então ele deixava, sem saber se fazia bem ou mal. Mas não, ele não podia, ainda andava, cansava deixar.
Chegava aos lugares, pensando em como poder pensar sem ofender. Ainda andava, mas pensava mais do que andava. Como resolver o que sempre foi deixado? Certamente não deixando. Deixar não pode, pois nunca resolveu. O que pode é não pensar, e sim resolver. E fazer o que? Ainda andava, pensava e resolvia, sem nenhuma conclusão.
Uma mão o encosta:
- Quem?
- Oi, as horas, por favor?
- Não uso relógios, porque a pergunta?
- Achei que era a hora de mudar, não seria a hora de mudar?
- Não sei se era ou se é. Eu não sei se a hora chega ou se passa, mas eu sei que ela existe. Já mudou algo hoje?
- Pra onde você anda?
- Minha casa. Responda, pra onde a gente muda?
- Não sei, achei que você soubesse.
Agora ele pensava dois pontos reticência. Eu sei, eu deixei, eu mudei, mas não mudei tudo, eu mudei o que eu não quis mudar. Eu devia mudar o que eu não consigo. Mas isso é traição, isso é deixar e deixar é morrer. Acomodar é viver com morte um dia inteiro e dormir ao seu lado. Dormir é morrer ou acordar?
Anda, anda e anda. As pessoas, quem, as pessoas? Sim, elas andam, mas não pensam. Penso que não pensam porque nenhuma delas parece morrer, só parecem andar. Pra onde? Pra casa, eu acho. Mas não sei, acho que não sei. Quem sabe já morreu. Pensou demais, é crime, e você morre. Sim, você morre. Quem pensa morre. E quem não pensa? Não sei, acho que não sei.
Parou, chegou. Abriu sua porta. Colocou os livros na mesa. Tirou os sapatos. Sentou no sofá. Fechou os olhos. Adormeceu, mas não morreu – na verdade, adormeceu e acordou. Voltou a andar. Chegou aonde tinha que estar. Cumprimentou, beijou, abraçou, trabalhou e se irritou. Voltou a andar, voltou a chegar, voltou a dormir.
Passou o tempo, pensou no tempo, morreu no tempo.
Mas sempre acorda, sempre volta. Sempre há uma nova chance de morrer, porque morrer é sublime ao ponto de ninguém saber o que é morrer. Sabe-se que morre porque ninguém jamais volta a viver. Voltar a viver é pecado, e isso não pode ficar deixando. Tem mesmo que ajeitar. Morreu, ta morto. Não se volta pra não confundir ninguém. Fantasma de jeito nenhum, é tudo morto que quer contar o segredo da morte pra quem nem pensa em morrer. Não se pensa em morrer, se pensa enquanto anda, se pensa enquanto se pensa, se pensa enquanto se vive. Morre-se quando para de pensar. Isso é morte.
Começou a escrever linhas, a pintar tintas e gravar vozes em pequenas fitas cassetes. Separou uma bermuda, uma blusa, uma escova de dentes, um pedaço do cabelo e os bens que mais amava e os guardou em um baú, no fundo do mar. Nada molhava e não se sabe porque. Deixaria esse pensamento como herança para outra pessoa que consiga pensar no por que das coisas.Pensava por hora nele, no porque dele ter feito um baú. Não era pirata, baú quem tem é eles que sabiam esconder as coisas. Eu não. Eu joguei ai no mar, porque de qualquer forma, eu iria morrer se fosse achar aquelas coisas que não molhavam nunca.
Guardou a lembrança, pelo menos como lembrança de um dia ter feito algo insano. Os anos passaram se e ele voltou a voltar a fazer as coisas. Pensava em coisas mais diferentes, não sobre andar, não sobre morrer. Sobre as centopéias, sobre as luzes e sobre a eletricidade. Pesar em eletricidade era diferente, porque nunca era possível saber aonde ela se escondia. É rápida, eu sei, mas ela nem sempre é um choque. Ela é algo humano, do mal, que por hora não faz mal a ninguém. Mas ela é má, porque dói. Coisas que doem assim não podem ser boas. Pensou na televisão levando choques pra funcionar. Ninguém merece levar choques pra funcionar. Pode-se levar um choque apenas uma vez para saber que eletricidade é ruim.
Às escuras, na medida do possível, vivia. Vivia com medo, mas vivia. Escondia-se na casa escura, fugindo da eletricidade. Era sensível, bem se lembrava. Os pais falavam deixa, é assim esmo, fazer o que? Não se sabe, mas essa é a graça. Fazer o que? Fazer eletricidade é ruim, nem se pode pensar demais porque se morre. Se morre? Não sei; morre, eu sei - mas não sei “se morre”. Não pode-se pensar em pensar em morrer, porque, não-não-não, deus me livre. Não se culpa deus pela morte de ninguém. Se culpa deus por tudo, mas não se culpa em voz alta, porque deus castiga.
Dizem tanto de deus. Mas como se sabe de deus? Não se sabe nada de deus, porque Deus é escrito com letra maiúscula, tem de respeitar. Não tem que se repeitar, tem de se respeitar, porque um usar que demais é feio e dois respeitar é uma obrigação. Que? Sim, sem “que,” obrigação sim: deus é quem sabe morrer.
segunda-feira, 29 de março de 2010
29.03.09
29.03.2009
Por Ícaro Rabelo
Lembrou-se que era segunda-feira. Subiu aquelas escadas rolantes de cabeça baixa, o coração batendo rápido e com medo. Temeu principalmente olhar e nada ver. Então a cabeça ficou mais baixa, a medida que o coração explodia. Dentro, os pensamentos corriam feito loucos. Era a primeira vez que conscientemente prestes a cometer um grande erro. Não gostava de pensar em erros, pois eles sempre foram tão deliciosos que no final de tudo tinha medo de pensar que de certa forma ele mesmo era um viciado em erros. A cabeça pensava, ainda que baixa, no que falaria, em como falaria e se realmente falaria alguma coisa. Precisou de uma coragem que não tinha para erguer orgulhosamente sua cabeça confusa. Não era ele, via-se pela expressão leve. Poderia ser algum último suspiro de alguém que ele costumava ser quando ainda era inocente, ou até mesmo alguma outra personalidade que ele desconhecia. Via-se claramente pela expressão: não era ele. Aquela leveza no olhar e o riso inexplicavel que ele fazia quando precisava ser cruel.
Parou um pouco, como querendo procurar, sabendo que no fundo, era ele o alvo. Olhou ao redor, devagar, ainda temendo que ele realmente viesse. Desejando, de certa forma, que tudo que houve jamais tivesse acontecido. Devagar, foi checando cada pessoa, olhando atentamente para os olhos, que sempre eram os seus botes salva-vidas, tentando apenas encontrar algo conhecido, talvez um sentimento, talvez a própria perda que tanto o consumia. Viu apenas desconhecidos com olhos familiares. Olhou um pouco pra cima, um pouco pra baixo, e por fim deu adeus àquele lugar concluindo então que ele não viria. Esperar, jamais. A solução é voltar, e esquecer.
Ao virar o corpo, enfrentou o rosto familiar, encarando cada singular caracteristicas que o fazia ser tão especial. Era encantadoramente belo. Belo de um modo que os breves segundos em que ficou confrontando aqueles olhos cheios de tudo não forão capaz de suprir a necessidade que ele mesmo tinha de contemplar toda aquela beleza. Conseguia ver algo dentro deles que achava ser o coração, mas nunca teve absoluta certeza disso. Apenas via algo que era especialmente bonito. Talvez fosse esse o encanto que o empedia de ser cruel.
Surgiu então aquele sorriso diferente. E como se as coisas ficassem cada vez mais lenta, ele conseguiu prever o exato momento em que a voz sairia da boca. Sentiu o timbre preencher o peito; o mesmo timbre que sempre fora a representação fiel da sua felicidade durante aquele tempo. Abaixou um pouco sua cabeça, temendo algo que jamais conseguiria entender, e seu olhar encontrou aquela mão. Somente olhando, ele conseguia sentir a leveza do toque, e então ele podia dizer para qualquer que um era capaz de voar. Os outros detalhes do corpo foram pouco a pouco identificados durante o breve momento que encontrou os outros pedaços do corpo.
Sua cabeça subia levemente tentando encontrar os olhos. O grande encontro cruel que temeu acontecer, mas que agora já era inevitavel. Procurou as palavras que tanto havia ensaiado para esse momento, mas as perdeu em algum momento em que o olhava. Era sempre assim, as palavras sempre fugiam por mais presas que estivessem dentro da sua cabeça. Quem falava sempre era o coração, aquele bobo coração que insistia em tanta coisa e que acreditava fielmente em tudo. Ele apenas esquentava e batia forte, e isso já era o bastante para tudo acontecer descontroladamente. Respirou profundamente, e de dentro de sua bolsa, retirou uma caixa. Segurou aquele simples objeto como se estivesse amarrado a uma corda que o mantinha vivo. Estendeu a mão, ainda com pena de se despedir do ultimo sopro de vida que tinha tido nos ultimos tempos. Ofereceu, gentilmente e disse, como se fizesse as palavras terem o dobro do seu peso normal:
- Muito obrigado.
E então, sabia que aquilo era o final de tudo. Uma vez que a caixa fosse entregue, a corda que o permitia viver se romperia, e então, tudo teria um fim. Virou-se em direção escada rolante que o levaria embora daquele lugar. Não olhou pra traz, e talvez isso o tenha feito chorar uma lagrima jamais vista por ninguem e que por isso, jamais existiu. Era a crueldade que precisava ter para conseguir viver sozinho novamente. Sem ela seria o mesmo temor repetido, a incrivel montanha russa infinita que o nauseava sempre. Aquilo era o fim da melhor coisa que havia tido. Lembrou-se que ainda era segunda-feira. Ou era o fim do mundo?
Por Ícaro Rabelo
Lembrou-se que era segunda-feira. Subiu aquelas escadas rolantes de cabeça baixa, o coração batendo rápido e com medo. Temeu principalmente olhar e nada ver. Então a cabeça ficou mais baixa, a medida que o coração explodia. Dentro, os pensamentos corriam feito loucos. Era a primeira vez que conscientemente prestes a cometer um grande erro. Não gostava de pensar em erros, pois eles sempre foram tão deliciosos que no final de tudo tinha medo de pensar que de certa forma ele mesmo era um viciado em erros. A cabeça pensava, ainda que baixa, no que falaria, em como falaria e se realmente falaria alguma coisa. Precisou de uma coragem que não tinha para erguer orgulhosamente sua cabeça confusa. Não era ele, via-se pela expressão leve. Poderia ser algum último suspiro de alguém que ele costumava ser quando ainda era inocente, ou até mesmo alguma outra personalidade que ele desconhecia. Via-se claramente pela expressão: não era ele. Aquela leveza no olhar e o riso inexplicavel que ele fazia quando precisava ser cruel.
Parou um pouco, como querendo procurar, sabendo que no fundo, era ele o alvo. Olhou ao redor, devagar, ainda temendo que ele realmente viesse. Desejando, de certa forma, que tudo que houve jamais tivesse acontecido. Devagar, foi checando cada pessoa, olhando atentamente para os olhos, que sempre eram os seus botes salva-vidas, tentando apenas encontrar algo conhecido, talvez um sentimento, talvez a própria perda que tanto o consumia. Viu apenas desconhecidos com olhos familiares. Olhou um pouco pra cima, um pouco pra baixo, e por fim deu adeus àquele lugar concluindo então que ele não viria. Esperar, jamais. A solução é voltar, e esquecer.
Ao virar o corpo, enfrentou o rosto familiar, encarando cada singular caracteristicas que o fazia ser tão especial. Era encantadoramente belo. Belo de um modo que os breves segundos em que ficou confrontando aqueles olhos cheios de tudo não forão capaz de suprir a necessidade que ele mesmo tinha de contemplar toda aquela beleza. Conseguia ver algo dentro deles que achava ser o coração, mas nunca teve absoluta certeza disso. Apenas via algo que era especialmente bonito. Talvez fosse esse o encanto que o empedia de ser cruel.
Surgiu então aquele sorriso diferente. E como se as coisas ficassem cada vez mais lenta, ele conseguiu prever o exato momento em que a voz sairia da boca. Sentiu o timbre preencher o peito; o mesmo timbre que sempre fora a representação fiel da sua felicidade durante aquele tempo. Abaixou um pouco sua cabeça, temendo algo que jamais conseguiria entender, e seu olhar encontrou aquela mão. Somente olhando, ele conseguia sentir a leveza do toque, e então ele podia dizer para qualquer que um era capaz de voar. Os outros detalhes do corpo foram pouco a pouco identificados durante o breve momento que encontrou os outros pedaços do corpo.
Sua cabeça subia levemente tentando encontrar os olhos. O grande encontro cruel que temeu acontecer, mas que agora já era inevitavel. Procurou as palavras que tanto havia ensaiado para esse momento, mas as perdeu em algum momento em que o olhava. Era sempre assim, as palavras sempre fugiam por mais presas que estivessem dentro da sua cabeça. Quem falava sempre era o coração, aquele bobo coração que insistia em tanta coisa e que acreditava fielmente em tudo. Ele apenas esquentava e batia forte, e isso já era o bastante para tudo acontecer descontroladamente. Respirou profundamente, e de dentro de sua bolsa, retirou uma caixa. Segurou aquele simples objeto como se estivesse amarrado a uma corda que o mantinha vivo. Estendeu a mão, ainda com pena de se despedir do ultimo sopro de vida que tinha tido nos ultimos tempos. Ofereceu, gentilmente e disse, como se fizesse as palavras terem o dobro do seu peso normal:
- Muito obrigado.
E então, sabia que aquilo era o final de tudo. Uma vez que a caixa fosse entregue, a corda que o permitia viver se romperia, e então, tudo teria um fim. Virou-se em direção escada rolante que o levaria embora daquele lugar. Não olhou pra traz, e talvez isso o tenha feito chorar uma lagrima jamais vista por ninguem e que por isso, jamais existiu. Era a crueldade que precisava ter para conseguir viver sozinho novamente. Sem ela seria o mesmo temor repetido, a incrivel montanha russa infinita que o nauseava sempre. Aquilo era o fim da melhor coisa que havia tido. Lembrou-se que ainda era segunda-feira. Ou era o fim do mundo?
domingo, 21 de março de 2010
Atrasos.
Havia um último gole de café dentro daquela mínima xícara. Era a segunda. A primeira foi rapidamente, eram apenas alguns minutos de atraso, então ele pediu algo para passar o tempo, enquanto sorria olhando o lado de fora daquela cidade nova. Pessoas passavam pela vitrine, apressadas, calmas, tristes, felizes. Nada se ouvia além do usual tilintar das xicaras nos seus pires. Vez por outra ainda ouvia-se alguem chamando o garçon, ou um tom de voz se elevando. Isso era o normal: pessoas que se encontram com amigos e amores dentro de uma aconchegante cafeteria em um dia cinza de inverno; o que ainda era compreensivel eram os atrasos.
Um último gole se fazia inevitavel. Café esfriando enquanto procurava uma desculpa, a última, para esperar mais outra xícara. Sem mais chances, todas haviam sido desperdiçadas. Seria patético perdoar quem nem sequer havia chegado a tempo para perdir perdão. E então, se chegasse, seria o transito a desculpa. Claro, o trânsito, sempre o trânsito ou a mãe doente. Não haveria mais chance. Era um fim que começaria a doer com aquele último gole frio.Olhou o relogio, como se ainda esperasse encontrar uma hora congelada, e tratou logo de abaixa-lo. Quando fora a última vez que olhava as horas?
As pessoas o olhavam. Não era como se ele fosse um animal diferente, ou travasse uma luta contra seu relógio ou aquela xicara. As pessoas simplesmente olhavam e sentiam a sua dor. Os tomadores de café sempre conseguiam entender qualquer coisa. Consguiam vê-lo olhando a vitrine, esperando encontrar alguém que poderia chegar de todas as direções, ou de qualquer forma enquanto as luzes acendiam lentamente. Não era noite, era apenas escuro. O amarelo chegava perto da sua face,beijando as bochechas e a boca, quase o expulsando daquela impossibilidade que era estar sozinho em um lugar cheio. Era um rapaz realmente muito bonito, principalmente quando a luz o alcançou completamente.
Encaixou um dos dedos na pequena asa da xícara e a levou rapidamente para os lábios. Todo o processo foi visto, e em algum canto, alguem entendeu o que realmente significava beber tudo aquilo. Alguem deve ter entendido porque não era assim tão dificil esconder aquela dor e disfarçar a falta de satisfação em beber um café. Nunca é fácil ter que engolir o fim em apenas um gole. Alguém deve ver, e seria realmente muito importante que alguém conseguisse pará-lo. Para isso não seria necessário muito esforço. Alguem poderia pedir uma informação, ou começar alguma briga. Qualquer um poderia elevar seu tom de voz, ou começar uma discursão. Todos, de alguma forma, se interessavam no rapaz que sentava perto da janela.
Bebeu aquele resto de café, com dor.
O mesmo gosto de antes, que se pelo menos fosse diferente de tudo, consequentemente, seria mais facil de ser reconhecido. Então esse era o fim, aquilo que tinha o mesmo gosto do começo? Levantou o dedo, e imediatamente o garçom o atendeu. Desejou apenas a conta, e enquanto colocava seus livros dentro da bolsa, alguem sentava-se destretenciosamente. Só consegui notar que seu encontro o encontrava quando o garçon anunciou-se presente.
Levantou-se e saiu, ainda com o gosto amargo na boca.
Um último gole se fazia inevitavel. Café esfriando enquanto procurava uma desculpa, a última, para esperar mais outra xícara. Sem mais chances, todas haviam sido desperdiçadas. Seria patético perdoar quem nem sequer havia chegado a tempo para perdir perdão. E então, se chegasse, seria o transito a desculpa. Claro, o trânsito, sempre o trânsito ou a mãe doente. Não haveria mais chance. Era um fim que começaria a doer com aquele último gole frio.Olhou o relogio, como se ainda esperasse encontrar uma hora congelada, e tratou logo de abaixa-lo. Quando fora a última vez que olhava as horas?
As pessoas o olhavam. Não era como se ele fosse um animal diferente, ou travasse uma luta contra seu relógio ou aquela xicara. As pessoas simplesmente olhavam e sentiam a sua dor. Os tomadores de café sempre conseguiam entender qualquer coisa. Consguiam vê-lo olhando a vitrine, esperando encontrar alguém que poderia chegar de todas as direções, ou de qualquer forma enquanto as luzes acendiam lentamente. Não era noite, era apenas escuro. O amarelo chegava perto da sua face,beijando as bochechas e a boca, quase o expulsando daquela impossibilidade que era estar sozinho em um lugar cheio. Era um rapaz realmente muito bonito, principalmente quando a luz o alcançou completamente.
Encaixou um dos dedos na pequena asa da xícara e a levou rapidamente para os lábios. Todo o processo foi visto, e em algum canto, alguem entendeu o que realmente significava beber tudo aquilo. Alguem deve ter entendido porque não era assim tão dificil esconder aquela dor e disfarçar a falta de satisfação em beber um café. Nunca é fácil ter que engolir o fim em apenas um gole. Alguém deve ver, e seria realmente muito importante que alguém conseguisse pará-lo. Para isso não seria necessário muito esforço. Alguem poderia pedir uma informação, ou começar alguma briga. Qualquer um poderia elevar seu tom de voz, ou começar uma discursão. Todos, de alguma forma, se interessavam no rapaz que sentava perto da janela.
Bebeu aquele resto de café, com dor.
O mesmo gosto de antes, que se pelo menos fosse diferente de tudo, consequentemente, seria mais facil de ser reconhecido. Então esse era o fim, aquilo que tinha o mesmo gosto do começo? Levantou o dedo, e imediatamente o garçom o atendeu. Desejou apenas a conta, e enquanto colocava seus livros dentro da bolsa, alguem sentava-se destretenciosamente. Só consegui notar que seu encontro o encontrava quando o garçon anunciou-se presente.
Levantou-se e saiu, ainda com o gosto amargo na boca.
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