quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A jaqueta

Eu seguro os casacos, logo, talvez ele deva me conhecer apenas como “aquela garota simpática da recepção”. Na verdade eu sou a garota que secretamente cheira a sua roupa procurando descobrir mais detalhes sobre ele. Nunca senti o seu perfume, apenas o seu cheio. Antes de tirar aquela aquela jaqueta preta conseguia tocá-lo. Experimentava um pecado voluptuoso, daqueles em que os olhos se fecham, os ombros contraem e o corpo se move levemente para frente querendo se entregar em um abraço impossivel fora daquele devaneio. As mãos agiam rápidas, era apenas um toque inocente nos seus ombros seguido de um aceno cínico de quem deseja nada exceto ele. A cara sustentava um sorriso de culpa e prazer.
Logo levaria sua jaqueta a uma sala reservada e a vestiria. Tentava se imaginar dentro daquele corpo, dentro dele e através da jaqueta experimentava por alguns segundos o sabor de ser a pessoa pela qual se apaixonava. O cheiro incorporava-se dentro dela, fazendo-a agir de maneira inapropriada pra uma recepcionista. Valia a pena correr o risco, afinal, o desejo a excitava. Jamais teria coragem de sequer tentar alguma aproximação. Era feia e sem atrativos, porém, bem apanhada; uma daquelas que se conformaram e passam despercebidas.
A meia luz do depósito no qual se encontrava a ajudava a delirar. Estava escuro, e ela podia escutar vozes do lado de fora. Trancou a porta em um movimento bem rápido. Encostou-se de cosrtas para porta e deslisou. Tirou a calcinha por debaixo do vestido e chutou o seu salto alto para um canto qualquer. Se pôs imediatamente sentada no chão com suas pernas contraidas, como se protegessem uma ordem maior vinda de outro lugar. Tentava não ceder e, de olhos fechados, começou a acariciar o couro da jaqueta, sentindo toda a delicadeza que já havia ido embora.
Por algum motivo, notou que salivava bastante. O coração parecia não bater mais. Definitivamente, não se sentia ameaçada. Conseguia enxergar as prateleiras do lugar em que estava. Compreendeu que se tratava de um depósito. As informações se processavam muito lentamente, como se alguém irresistivel lhe dissesse baixinho no ouvido o que ela deveria saber. Virou sua cabeça para sua esquerda. Sem entender, seus olhos fecharam e imediatamente suas mãos retiraram os óculos vermelhos e soltaram o coque, fazendo uma cachoeira negra de fios ondulados dançarem sobre os seus ombros.
Sentia-se confortável naquela jaqueta. Pôde sentir cheiros e associá-los àquele que a governava. Sentia o choque do cheiro encontrar o seu corpo quente. Acima de todos os cheiros, sentia um cheiro de suor masculino que não lhe era podre. O cheiro natural do homem que lhje tinha sobre um poder, quase um feitiço. Seu corpo lutava contra seus desejos. Nesse momento, ela voltava a pensar sobre o que fazia, mas antes que fosse dada a ela a oportunidade de se sentir riducula e voltar a ser a patética recepcionista que era, novamente, suas mãos agiam, dessa vez puxando o vestido preto um pouco mais pra cima.
Sentiu uma das pernas tremer. Só lhe restava repousá-la e se render enquanto ainda havia uma perna segura apoiando sua loucura. As mãos trabalhavam sozinha e ainda que ela determinasse a intesidade ou a rapidez do movimento que faziam em si, ela jamais teria controle. Sua mente se rendia lentamente. Era como se ela mesma estivesse se desconectando da sua mente e entrando em outro corpo, um que lhe guiava do modo que ela mais precisava. Suas mãos já não lhe pertenciam. Eram outras mãos, mãos masculinas, que com rigidez a fazia desmaiar sobre si mesmo ao mesmo tempo que escorregava pela porta.
Começou a gemer baixo e de olhos fechados. Aquela mão a acariciava de uma maneira tão intima que ela jamais pôde entender como tanto conhecimento sobre ela foi transmitido. Ela desenhava aquele homem ao seu lado de modo que se ela virasse a cabeça um pouco mais para a sua esquerda ela conseguiria sentir um fino vio de vento soprado por ele. A certeza de que ele a possuía a excitava mais. Entre os gemidos e as mordidas de lábios, ela imaginava as várias facetas daquele homem de jaqueta preta que despedaçava pobres rosas como ela.
O calor aumentava conforme ele acelerava o movimento da sua mão. Qualquer ordem que ele a desse seria cumprida. A batalha entre ela e a realidade já havia sido perdida a muito tempo, então, ela aproveitava aquele homem surreal a atacando das maneiras mais diferentes, pouco a pouco realizando as suas fantasias e despetalando aquela pobre moça que se entregava a cada puxão de pétalas. Era a sua nirvana. Quando já não se importava mais com o que fosse feito das suas suaves pétalas, rapidamente gemeu bem alto, acordando de tudo.
Ajeitou-se parcialmente ainda de olhos fechados. Pôs seus óculos imediatamente como se aquilo fosse um indicio de que havia recuperado a lucidez. Afirmava-se vestindo cada peça de roupa, e assim, pouco a pouco ela recompunha. A mente se recuperava agressivamente da total ausência. Logo se lembraria das horas, do restaurante, das responsabilidade e, enfim, sentiria vergonha pelos seus atos.
Levantou-se apoiando uma das mãos na parede do cubiculo escuro. Procurou o seu salto exatamente no ponto em que pensava tê-lo jogado e os calçou com certa dificultada. Antes de abrir a porta tentou ajeitar seu cabelo e manter a aparência profissional da qual precisaria para voltar ao trabalho. Esperou alguns segundos para destrancar a porta e saiu orgulhosa daquilo que havia feito, pronta para encarar o final da noite.
Chegou ao seu posto e atendeu alguns clientes. Não demorou muito e ele voltava sorrindo - não mais que ela.

Um comentário:

Unknown disse...

Eek... Desculpe a demora em ler seu conto... Mas cmg eh assim... Promessa é dívida... Hoje eu li e realmente me surpreendi com a sutileza que você abordou o assunto... Uma leitura fácil e envolvente. Parabéns mesmo!!! Tô orgulhoso por ser seu amigo!!!