domingo, 26 de junho de 2011

Eu sou Deus

Eu tive uma excelente idéia enquanto assistia um desses seriados. A idéia baseava-se em uma mulher de meia idade com os olhos verdes e belos cabelos curtos e ruivos. O que eu pensei? Eu sou Deus. Por quê? Até esse momento ela está nas minhas mãos e eu decido se ela morre ou não. Se ela é feliz ou se ela toma café. Eu sou Deus
Eram 22:30 e Ícaro Rabelo, cineasta independente, roteirista e fotografo, procurava dentre as milhões de idéias nulas uma boa opção para a trama que não levaria a lugar nenhum. Esse titulo, impactante, capturava a idéia geral da razão das consecutivas 22:30 do ultimo mês: a vida chata de uma pessoa chata que seria contada de uma maneira interessante. E esse objetivo seria alcançado quando uma pessoa chata fosse salvo de um dia chato por esse livro ou filme que se desenhava no momento
Ele era Deus. E ria um pouco grosseiramente da blasfêmia. Atraver-se-ia a repetir novamente? Sim, quantas vezes fossem necessárias, afinal das contas, o motivo de tudo sempre era a quebra. Ícaro revia alguns textos no seu computador enquanto esperava sua refeição chegar. Nesse momento, café algum faria efeito. Ele necessitava de boa comida, de um horário regular de exercícios, e de mais lanchonetes 24 horas. E naquela noite, era sábado, porque ele assim quis, a garota começava a chegar a lugar nenhum apenas tentando fazer o que todos nos já tentamos algum dia: bate-papo online.
A escolha no nick demorou alguns segundos. Ela olhava fixamente para aquelas letrinhas que somos obrigados a decifrar e que jamais acertamos de primeira quando estamos com pressa, com sono, ou velhos. Ela era um pouco velha, dizia-se, animando; ora, antes era melhor ser um pouco do que muito. Resolveu escolher Era venenosa; não se sentiu julgada como esperava. Ao contrario das suas expectativas, ela sentiu-se rejeitada, e então reentrou várias vezes na mesma sala até algum homem de nome suficientemente charmoso a corterjar-se.
Decidiu então desviar sua atenção e preparar-se um macarrão instantâneo de galinha caipira. Seu apartamento era bastante desorganizado, e tudo em nome da arte. Ela gostava a ilusão de pensar que cada algo diferente geraria uma mudança no fluxo continuo do tempo ou então quaisquer outras palavras diferentes e chamativas que impressionassem aparentemente positivamente um alguém sem mente. Mas as pessoas logo se cansavam e então ela dizia que era apenas descuidada.
E Deus perguntava, por que, diabos, não posso fazê-la importar-se mais um pouco com a organização?
Imediatamente a mulher ruiva da qual falávamos a pouco, ainda sem nome completo definido – e aqui entra um pequeno comentário do diretor: seu nome terá a letra J. então assim a chamemos enquanto isso ainda é um arquivo dentro do computador imaginário de um deus que habita um livro inexistente – começa a perguntar-se o que Deus reticências e os três minutos do macarrão acabaram.
Era simples e saboroso.
Durante os outros três minutos em que o macarrão instantaneamente pulava do prato para a sua barriga, Jennie ou Jennifer, escutava sirenes de policia. Sem desviar a sua atenção das pequenas curvas disformes que seu alimento desenhava no prato, Jennie ou Jennifer perdia a bela imagem azul e vermelha que se desenha na janela atrás do seu computador. Ela perdia a grande oportunidade de escrever o seu próximo possível livro, sem nome ainda definido.
Ícaro Rabelo pause e pensa que apenas um nome seria suficiente para um sucesso. Um sucesso precisa do nome pra se vangloriar. E então voltamos ao principio de Jennie ou Jennifer, que era se perder.
Enquanto havia algum resto de comida no prato, deixado de lado para a anotação de idéias importantes para a boa harmonia da casa, Jennie ou Jennifer pensava em coisas absurdamente impensáveis, como, por exemplo, porque ela havia deixado de lado a caixa de fósforos com três palitos jamais acessos e retirado uma nova caixa com novos cem amiguinhos para acender o fogo sagrado do fogão. A historia começa exatamente do mesmo jeito que termina, antes haviam três palitos, e antes deles mais três... e ela sempre os descartava, como se fossem palitos utilizados. Não o eram. Jennie ou Jennifer se arrependia amargamente de não ter tido a idéia que estava passando na sua cabeça enquanto o macarrão enrolado gelava no abandonamento provinientes do seu mais alto nível de subjetividade permitido pela sindica do prédio, Geralda, que era uma vibora inteligente: por que não criar uma família e por os 3 fosforos juntos sos outros três que estarão por vir?
E então ela reclamava que a comida estava fria e a jogava no lixo.

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