29.03.2009
Por Ícaro Rabelo
Lembrou-se que era segunda-feira. Subiu aquelas escadas rolantes de cabeça baixa, o coração batendo rápido e com medo. Temeu principalmente olhar e nada ver. Então a cabeça ficou mais baixa, a medida que o coração explodia. Dentro, os pensamentos corriam feito loucos. Era a primeira vez que conscientemente prestes a cometer um grande erro. Não gostava de pensar em erros, pois eles sempre foram tão deliciosos que no final de tudo tinha medo de pensar que de certa forma ele mesmo era um viciado em erros. A cabeça pensava, ainda que baixa, no que falaria, em como falaria e se realmente falaria alguma coisa. Precisou de uma coragem que não tinha para erguer orgulhosamente sua cabeça confusa. Não era ele, via-se pela expressão leve. Poderia ser algum último suspiro de alguém que ele costumava ser quando ainda era inocente, ou até mesmo alguma outra personalidade que ele desconhecia. Via-se claramente pela expressão: não era ele. Aquela leveza no olhar e o riso inexplicavel que ele fazia quando precisava ser cruel.
Parou um pouco, como querendo procurar, sabendo que no fundo, era ele o alvo. Olhou ao redor, devagar, ainda temendo que ele realmente viesse. Desejando, de certa forma, que tudo que houve jamais tivesse acontecido. Devagar, foi checando cada pessoa, olhando atentamente para os olhos, que sempre eram os seus botes salva-vidas, tentando apenas encontrar algo conhecido, talvez um sentimento, talvez a própria perda que tanto o consumia. Viu apenas desconhecidos com olhos familiares. Olhou um pouco pra cima, um pouco pra baixo, e por fim deu adeus àquele lugar concluindo então que ele não viria. Esperar, jamais. A solução é voltar, e esquecer.
Ao virar o corpo, enfrentou o rosto familiar, encarando cada singular caracteristicas que o fazia ser tão especial. Era encantadoramente belo. Belo de um modo que os breves segundos em que ficou confrontando aqueles olhos cheios de tudo não forão capaz de suprir a necessidade que ele mesmo tinha de contemplar toda aquela beleza. Conseguia ver algo dentro deles que achava ser o coração, mas nunca teve absoluta certeza disso. Apenas via algo que era especialmente bonito. Talvez fosse esse o encanto que o empedia de ser cruel.
Surgiu então aquele sorriso diferente. E como se as coisas ficassem cada vez mais lenta, ele conseguiu prever o exato momento em que a voz sairia da boca. Sentiu o timbre preencher o peito; o mesmo timbre que sempre fora a representação fiel da sua felicidade durante aquele tempo. Abaixou um pouco sua cabeça, temendo algo que jamais conseguiria entender, e seu olhar encontrou aquela mão. Somente olhando, ele conseguia sentir a leveza do toque, e então ele podia dizer para qualquer que um era capaz de voar. Os outros detalhes do corpo foram pouco a pouco identificados durante o breve momento que encontrou os outros pedaços do corpo.
Sua cabeça subia levemente tentando encontrar os olhos. O grande encontro cruel que temeu acontecer, mas que agora já era inevitavel. Procurou as palavras que tanto havia ensaiado para esse momento, mas as perdeu em algum momento em que o olhava. Era sempre assim, as palavras sempre fugiam por mais presas que estivessem dentro da sua cabeça. Quem falava sempre era o coração, aquele bobo coração que insistia em tanta coisa e que acreditava fielmente em tudo. Ele apenas esquentava e batia forte, e isso já era o bastante para tudo acontecer descontroladamente. Respirou profundamente, e de dentro de sua bolsa, retirou uma caixa. Segurou aquele simples objeto como se estivesse amarrado a uma corda que o mantinha vivo. Estendeu a mão, ainda com pena de se despedir do ultimo sopro de vida que tinha tido nos ultimos tempos. Ofereceu, gentilmente e disse, como se fizesse as palavras terem o dobro do seu peso normal:
- Muito obrigado.
E então, sabia que aquilo era o final de tudo. Uma vez que a caixa fosse entregue, a corda que o permitia viver se romperia, e então, tudo teria um fim. Virou-se em direção escada rolante que o levaria embora daquele lugar. Não olhou pra traz, e talvez isso o tenha feito chorar uma lagrima jamais vista por ninguem e que por isso, jamais existiu. Era a crueldade que precisava ter para conseguir viver sozinho novamente. Sem ela seria o mesmo temor repetido, a incrivel montanha russa infinita que o nauseava sempre. Aquilo era o fim da melhor coisa que havia tido. Lembrou-se que ainda era segunda-feira. Ou era o fim do mundo?
segunda-feira, 29 de março de 2010
domingo, 21 de março de 2010
Atrasos.
Havia um último gole de café dentro daquela mínima xícara. Era a segunda. A primeira foi rapidamente, eram apenas alguns minutos de atraso, então ele pediu algo para passar o tempo, enquanto sorria olhando o lado de fora daquela cidade nova. Pessoas passavam pela vitrine, apressadas, calmas, tristes, felizes. Nada se ouvia além do usual tilintar das xicaras nos seus pires. Vez por outra ainda ouvia-se alguem chamando o garçon, ou um tom de voz se elevando. Isso era o normal: pessoas que se encontram com amigos e amores dentro de uma aconchegante cafeteria em um dia cinza de inverno; o que ainda era compreensivel eram os atrasos.
Um último gole se fazia inevitavel. Café esfriando enquanto procurava uma desculpa, a última, para esperar mais outra xícara. Sem mais chances, todas haviam sido desperdiçadas. Seria patético perdoar quem nem sequer havia chegado a tempo para perdir perdão. E então, se chegasse, seria o transito a desculpa. Claro, o trânsito, sempre o trânsito ou a mãe doente. Não haveria mais chance. Era um fim que começaria a doer com aquele último gole frio.Olhou o relogio, como se ainda esperasse encontrar uma hora congelada, e tratou logo de abaixa-lo. Quando fora a última vez que olhava as horas?
As pessoas o olhavam. Não era como se ele fosse um animal diferente, ou travasse uma luta contra seu relógio ou aquela xicara. As pessoas simplesmente olhavam e sentiam a sua dor. Os tomadores de café sempre conseguiam entender qualquer coisa. Consguiam vê-lo olhando a vitrine, esperando encontrar alguém que poderia chegar de todas as direções, ou de qualquer forma enquanto as luzes acendiam lentamente. Não era noite, era apenas escuro. O amarelo chegava perto da sua face,beijando as bochechas e a boca, quase o expulsando daquela impossibilidade que era estar sozinho em um lugar cheio. Era um rapaz realmente muito bonito, principalmente quando a luz o alcançou completamente.
Encaixou um dos dedos na pequena asa da xícara e a levou rapidamente para os lábios. Todo o processo foi visto, e em algum canto, alguem entendeu o que realmente significava beber tudo aquilo. Alguem deve ter entendido porque não era assim tão dificil esconder aquela dor e disfarçar a falta de satisfação em beber um café. Nunca é fácil ter que engolir o fim em apenas um gole. Alguém deve ver, e seria realmente muito importante que alguém conseguisse pará-lo. Para isso não seria necessário muito esforço. Alguem poderia pedir uma informação, ou começar alguma briga. Qualquer um poderia elevar seu tom de voz, ou começar uma discursão. Todos, de alguma forma, se interessavam no rapaz que sentava perto da janela.
Bebeu aquele resto de café, com dor.
O mesmo gosto de antes, que se pelo menos fosse diferente de tudo, consequentemente, seria mais facil de ser reconhecido. Então esse era o fim, aquilo que tinha o mesmo gosto do começo? Levantou o dedo, e imediatamente o garçom o atendeu. Desejou apenas a conta, e enquanto colocava seus livros dentro da bolsa, alguem sentava-se destretenciosamente. Só consegui notar que seu encontro o encontrava quando o garçon anunciou-se presente.
Levantou-se e saiu, ainda com o gosto amargo na boca.
Um último gole se fazia inevitavel. Café esfriando enquanto procurava uma desculpa, a última, para esperar mais outra xícara. Sem mais chances, todas haviam sido desperdiçadas. Seria patético perdoar quem nem sequer havia chegado a tempo para perdir perdão. E então, se chegasse, seria o transito a desculpa. Claro, o trânsito, sempre o trânsito ou a mãe doente. Não haveria mais chance. Era um fim que começaria a doer com aquele último gole frio.Olhou o relogio, como se ainda esperasse encontrar uma hora congelada, e tratou logo de abaixa-lo. Quando fora a última vez que olhava as horas?
As pessoas o olhavam. Não era como se ele fosse um animal diferente, ou travasse uma luta contra seu relógio ou aquela xicara. As pessoas simplesmente olhavam e sentiam a sua dor. Os tomadores de café sempre conseguiam entender qualquer coisa. Consguiam vê-lo olhando a vitrine, esperando encontrar alguém que poderia chegar de todas as direções, ou de qualquer forma enquanto as luzes acendiam lentamente. Não era noite, era apenas escuro. O amarelo chegava perto da sua face,beijando as bochechas e a boca, quase o expulsando daquela impossibilidade que era estar sozinho em um lugar cheio. Era um rapaz realmente muito bonito, principalmente quando a luz o alcançou completamente.
Encaixou um dos dedos na pequena asa da xícara e a levou rapidamente para os lábios. Todo o processo foi visto, e em algum canto, alguem entendeu o que realmente significava beber tudo aquilo. Alguem deve ter entendido porque não era assim tão dificil esconder aquela dor e disfarçar a falta de satisfação em beber um café. Nunca é fácil ter que engolir o fim em apenas um gole. Alguém deve ver, e seria realmente muito importante que alguém conseguisse pará-lo. Para isso não seria necessário muito esforço. Alguem poderia pedir uma informação, ou começar alguma briga. Qualquer um poderia elevar seu tom de voz, ou começar uma discursão. Todos, de alguma forma, se interessavam no rapaz que sentava perto da janela.
Bebeu aquele resto de café, com dor.
O mesmo gosto de antes, que se pelo menos fosse diferente de tudo, consequentemente, seria mais facil de ser reconhecido. Então esse era o fim, aquilo que tinha o mesmo gosto do começo? Levantou o dedo, e imediatamente o garçom o atendeu. Desejou apenas a conta, e enquanto colocava seus livros dentro da bolsa, alguem sentava-se destretenciosamente. Só consegui notar que seu encontro o encontrava quando o garçon anunciou-se presente.
Levantou-se e saiu, ainda com o gosto amargo na boca.
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